CUT: que aliado é este?
Desde o anúncio da intenção do governo de promover uma reforma da Previdência, os servidores públicos de todo o País passaram a se preocupar e a se organizar para defender seus direitos e o serviço público de uma forma mais ampla. Nesse processo, as entidades sindicais alinharam suas principais forças para enfrentar as batalhas em torno da questão.
No momento, nada mais natural que buscar o apoio de aliados tradicionais e de peso como as centrais sindicais. No entanto, a principal central brasileira, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), se revelou uma grande surpresa quando procurada. Sem saber o que fazer deixou claro que não estava preocupada com os servidores e prestou solidariedade e apoio, quem diria, ao governo e não aos trabalhadores.
Para entender esse comportamento, que foi se modificando de acordo com a pressão dos servidores públicos, temos que analisar alguns fatores.
Ninguém pode ou deve negar que, quando de sua criação, a CUT cumpriu um papel importantíssimo na redemocratização do País, na organização dos trabalhadores em defesa de seus direitos e em outros aspectos da vida nacional.
Apesar disso, devemos lembrar que a CUT foi formada para atender aos trabalhadores da iniciativa privada, mesmo porque, os servidores públicos à época, não tinham direito de filiação sindical, portando ficando à margem deste processo, e as metas e interesses estabelecidas para a central não têm qualquer preocupação com o serviço público.
Quando os servidores passaram a ter direito de integrar os movimentos das centrais, a grande maioria se filiou à Central Única. Mesmo assim, a CUT manteve suas lutas sem se preocupar especificamente com esses novos trabalhadores que iam ingressando em seus quadros.
Por outro lado, com a chegada do Partido dos Trabalhadores ao poder, a CUT vive hoje um grande dilema, manter o apoio ao seu braço político, que é o PT ou defender os interesses dos trabalhadores, aos quais diz representar.
O PT por sua vez procura fortalecer a CUT e busca impô-la, como representante dos servidores públicos nas negociações da reforma da Previdência. A estratégia para fortalecer a CUT e simples e baixa: descredenciar, desacreditar e dificultar a participação das entidades próprias dos servidores públicos das negociações.
É importante lembrar, ainda, que a CUT tem usado seu poder e suas bases para formar uma bancada própria dentro do Congresso Nacional. É só ver quantos deputados federais e senadores surgiram para a política, a partir de cargos de direção na central. Uma tropa de choque que hoje ajuda o governo contra os trabalhadores.
Diante desse quadro, a CUT vem se mantendo no centro das negociações, buscando favorecer os interesses do governo em prejuízo claro aos interesses dos trabalhadores. A postura adotada pelo presidente da entidade, Luiz Marinho, nas reuniões em que participa, mostra que tipo de apoio os servidores podem esperar da CUT: “Acho que o governo está errado em manter a integralidade. Isso na verdade, é ceder a pressão daqueles que ganham altos salários”, afirmou durante audiência na comissão especial da reforma.
Além de ser contra a integralidade, Marinho defendeu, durante as negociações, a criação dos fundos de pensão para os futuros servidores que recebam salários acima de R$ 4.800 apoiando abertamente a lógica do governo.
A estratégia do governo, com apoio claro da CUT, visa à privatização da Previdência.
A defesa da instituição dos fundos de pensão é uma irresponsabilidade comprovada em diversos países da forma mais cruel, deixando milhões de pessoas sem direito a receber seus benefícios e levando a economia à bancarrota.
Além de defender os interesses do governo, a CUT tem atuado de forma dissimulada nas negociações em torno da reforma. Em alguns casos, simplesmente não compareceu à mesa de negociação. Em outros, tentando impedir a participação de entidades de servidores. Diante das entidades, chegou a afirmar que não estava participando de negociações com o Palácio do Planalto e depois afirmou que o texto que apresentado é fruto de negociação da CUT com o governo federal.
É preciso que tenhamos claro que hoje, assim como historicamente, a CUT não representa os servidores públicos.
Afinal, é impossível ter um aliado que troca os interesses dos trabalhadores pelos do governo.