TÉCNICO SE DEDICA A TORNAR
SISTEMAS MAIS SEGUROS
Profissionais lutam contra o tempo para acompanhar o avanço tecnológico
Todos os anos, milhões de contribuintes utilizam os sistemas informatizados da Receita Federal para encaminhar suas declarações de Imposto de Renda, fazer consultas e solicitar serviços. Há muito tempo, a Receita Federal passou a ser referência nacional e internacional graças à qualidade e a segurança de seus sistemas de informação. Mas, por trás dos complexos programas de informática, que facilitam a vida do contribuinte, ajudam a ampliar a arrecadação e reduzir a sonegação fiscal, existe um corpo técnico formado por profissionais altamente qualificados.
Integrante do grupo de trabalho Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF), desde de 1995, o Técnico Sílvio Bacalá Júnior, é um dos profissionais que contribui para aprimorar ainda mais os sistemas de declaração e envio do IRPF.
O grupo que é responsável pela análise, desenvolvimento de projetos, programação e documentação do IRPF é formado por oito Técnicos da Receita Federal de diferentes locais. Foram esses profissionais que desenvolveram o programa da Receita com versões para o Windows, que permite ao contribuinte, de casa, preencher sua documentação para que seja apurada. Eles também desenvolveram outros programas ligados ao IRPF, como Ganho de Capital, Saída Definitiva do País e Encerramento de Espólio.
Em 1996, Silvio Bacalá conta que o grupo desenvolveu o Trans96, que foi um software para validação e recepção de declarações IRPF e IRPJ utilizando, pela primeira vez, a rede da Secretaria Receita Federal (SRF) como infra-estrutura. As primeiras versões da Declaração IRPF on-line, que é preenchida diretamente pela Web, também foram desenvolvidas pelo grupo de Técnicos da Receita Federal.
Mas, devido a enorme carga de trabalho do Grupo IRPF, Bacalá foi obrigado a deixar de realizar a confecção deste produto, que passou a ser executada pelo SERPRO- hoje responsável por desenvolver os programas para recepção de declarações Receitanet e Transdados. “A saída de alguns desenvolvedores do Grupo acabou gerando uma enorme carga de trabalho”, lamenta.
Atualmente, Sílvio Bacalá trabalha na Delegacia da Receita Federal de Uberlândia/MG e sua atuação esta focada no desenvolvimento do IRPF. “Estamos finalizando a versão Windows do IRPF 2004, e trabalhando na versão Java do IRPF 2004, visando atender ao público que utiliza computadores com plataforma não Windows, como Linux, OS/2, Mac”, conta. .
Sílvio Bacalá ingressou na Receita Federal no início de 1993, quando foi aprovado no concurso de TRF para a área de Informática. Ele iniciou suas atividades na DRF/Uberlândia, na área de Informática (SATEC). Além de trabalhar como Técnico da Receita Federal, Bacalá é professor concursado do curso de Ciência da Computação da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) desde 1989. Bacalá é formado em Engenharia Elétrica, com Especialização em Tecnologia de Informações pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e Mestre em Ciência da Computação pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
Para Bacalá, embora ainda haja muitas críticas com relação aos sistemas de informações da Receita Federal, o trabalho realizado nos últimos anos pela COTEC tem feito da Receita Federal referência para os demais órgãos da Administração Pública e para outros países.
A home-page da RF, por exemplo, é uma das mais freqüentadas justamente em função dos serviços que oferece. Os sistemas internos têm evoluído, e estão cada vez mais integrados e consistentes. Chegará o dia, diz Bacalá, em que haverá uma Central de Atendimento ao Contribuinte Virtual, onde será possível acessar uma Web Center da Receita Federal. Esse sistema permitirá, que de sua casa, o contribuinte possa conversarar com um atendente, e resolver problemas sem necessitar ir pessoalmente até uma unidade da SRF. Para isso será preciso identificar o contribuinte, o que poderá ser feito com a utilização da certificação digital que vem sendo implantada na SRF. “Se o futuro caminha na velocidade da informação, a SRF tem de acompanhar essa evolução”, diz.
Incertezas e falta de infra-estrutura afetam trabalho do setor
Os profissionais que atuam no setor de informática da Receita Federal travam uma batalha constante contra o tempo. O avanço tecnológico e as exigências cada vez maiores por segurança, tornam o trabalho desses profissionais ainda mais complexo.
O professor universitário e Técnico da Receita Federal, Sílvio Bacalá Júnior, diz que apesar de todas as dificuldades, ele se sente “com um pai que, após acompanhar o crescimento sadio de seu filho, o vê completar um curso superior, responsável e bem empregado”, diz
Ele conta que o programa para declaração do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) foi crescendo ao longo dos anos, até atingir o estágio atual. “Temos uma imensa satisfação quando um contribuinte chega a dizer que nunca imaginou que teria prazer em fazer sua declaração de Imposto de Renda, apesar de, na maioria das vezes, não gostar muito de seu resultado”, conta.
Até mesmo Bacalá se surpreende com os avanços conquistados dentro da Receita Federal. Em sua opinião, ninguém poderia imaginar que no Brasil, seria possível preencher uma declaração de Imposto de Renda e entregá-la de sua própria casa, via Internet, enquanto que no Estados Unidos o contribuinte ainda usa o formulário impresso, muitas vezes preenchido a mão. “Isso dá uma sensação de dever cumprido”, acrescenta.
Mas, Bacalá diz que apesar da valorização do trabalho e do respeito dos colegas, nem sempre a Secretaria da Receita Federal reconhece o trabalho que está sendo executado. “Existe sempre a incerteza quanto ao futuro de seu trabalho e da equipe. Se o trabalho é bom, de qualidade e faz sucesso, você apostaria na continuidade. Mas na SRF nem sempre essa aposta deve ser feita, pois nunca se sabe quais fatores serão considerados numa tomada de decisão. Hoje, você passa noites trabalhando para cumprir o cronograma buscando aprimorar seu trabalho. Amanhã, você será alocado em outra tarefa, independente do grau de conhecimento ou especialização que você obteve com seu trabalho, independente de seu desejo ou não. Todo o investimento da instituição em seu treinamento é desconsiderado. Isto torna nosso trabalho, por vezes, frustrante”, desabafa.
Mas apesar das dificuldades, Sílvio Bacalá acredita que sempre é possível melhorar o produto final, o processo de trabalho, principalmente na área de Informática, devido à imensa velocidade de expansão e evolução dos produtos.
Na opinião de Bacalá a área de informática da Receita Federal precisa continuar a inovar, buscando novas soluções, novos produtos. Sílvio Bacalá sugere ainda que haja um melhor aproveitamento dos servidores da Receita Federal. De acordo com ele, a capacidade de muitos colegas é mal aproveitada, e com isso a Secretaria da Receita Federal acaba por desperdiçar boas idéias e inovações. “Muitas vezes boas iniciativas se perdem por não chegar ao nível de decisão apropriado. Acho que a troca de informações e sugestões no âmbito da SRF poderia ser maior. Basta usar a criatividade e a infra-estrutura da rede da SRF como elemento de comunicação”, sugere.
Dificuldades
A desvalorização da carreira de Técnico da Receita Federal somada a especialidade da atuação tem trazido problemas para o setor de desenvolvimento de sistemas da Receita Federal. Na opinião de Sílvio Bacalá, hoje as principais dificuldades do trabalho do Grupo de desenvolvimento do IRPF se referem à escassez de mão-de-obra para participar da equipe. De acordo com ele existe uma grande dificuldade de repor os Técnicos que foram obrigados a sair em busca de um melhor salário. Os Técnicos também sofrem com a falta de estrutura. “Os problemas de recursos e burocracia, às vezes, fora do âmbito da SRF, acabam interferindo em nossa atuação”, critica. Segundo ele, essa situação acaba interferindo no cronograma de atuação do Grupo, que muitas vezes se vê obrigado a realizar reuniões, que acabam sufocando o trabalho. Mas o maior problema está relacionado à incerteza de continuidade dos projetos. “Isso desestimula e abate os membros da equipe”, finaliza.