CNI projeta redução no ritmo de crescimento

Valor Econômico


10/05/2011


Apesar de sofrer queda, em março, provocada, em grande parte, pelo menor número de dias úteis devido ao Carnaval, o desempenho da indústria brasileira no início de 2011 foi um dos melhores dos últimos anos, só abaixo do resultado recorde de 2010, segundo divulgou ontem a Confederação Nacional da Indústria (CNI). O faturamento real da indústria caiu 5,2% em março, quando comparado a fevereiro e excluídos fatores sazonais. Mas, com dados dessazonalizados, houve aumento de 1,7% em relação a março do ano passado, e, no trimestre, houve crescimento de 7,5% em relação ao mesmo trimestre de 2010.


"A indústria ainda não demonstrou queda. Na média, há um pequeno crescimento", disse o gerente da Unidade de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, que espera, porém, uma redução sensível no ritmo de crescimento da indústria em 2011.


Os dados da CNI mostram, ainda, que as concessões salariais foram significativas nos últimos meses. Embora, em março, a geração de emprego tenha sido praticamente nula em relação ao mês anterior, a massa salarial real, total de rendimentos pagos na indústria, cresceu 3,7% em relação a fevereiro e 8,1% em comparação a março de 2010. O rendimento médio real (descontada a inflação) também cresceu 3,7% comparado aos resultados de fevereiro. O aumento em relação a março de 2010 foi de 5%.


O resultado do emprego interrompeu a tendência de alta dos quatro meses anteriores, mas representou aumento de 6,6% quando comparado com o desempenho do mesmo trimestre de 2010. A massa salarial, em março, ficou 8,8% acima do que estava em março do ano passado. O uso da capacidade instalada da indústria praticamente voltou ao nível de março de 2010, após cair, durante o trimestre, em média, um ponto percentual em relação ao último trimestre de 2010.


"Parte da queda de março deve ter sido recuperada em abril, temos esperança de alguma recuperação", comentou Castelo Branco. Durante o semestre, os indicadores da indústria devem ainda continuar "muito oscilantes, mês a mês", previu. Mas o arrefecimento do crescimento econômico e as medidas de controle do crédito do governo, somadas ao impacto do real valorizado, devem ter reflexos negativos sobre produção e emprego, acredita Castelo Branco. Ele vê no câmbio desfavorável ao dólar um fator de preocupação para as empresas exportadoras e para as concorrentes com importados.


A avaliação do economista é fundamentada pelos resultados divulgados por setor: no trimestre, comparado com o mesmo trimestre do ano passado, houve queda no faturamento real nas indústrias de móveis (-9,5%), papel e celulose (-6,7%), têxteis (-4,7%), madeira (-0,6%), metalurgia básica (-0,6%) e alimentos (-0,3%). O impacto das condições da economia foi bastante desigual, porém: houve setores com forte aumento no faturamento real no trimestre, especialmente o de "outros equipamentos de transporte" (quase 49%), couros e calçados (41%) e material elétrico e de comunicação (28%).


"A queda no primeiro trimestre de 2011 não reflete a situação real do setor industrial, a situação real é de crescimento, de expansão", disse Castelo Branco. "Mas claro que o crescimento é mais moderado do que nós vimos neste mesmo período do ano passado."