O GLOBO
11/05/2011
Brasil consegue que tema seja discutido, mas FMI continuará de fora
BRASÍLIA. O Brasil obteve ontem uma vitória na Organização Mundial do Comércio (OMC) ao propor que a guerra cambial seja discutida no âmbito do organismo multilateral. No entanto, a delegação brasileira não conseguiu emplacar a ideia de que o tema seja tratado, de forma coordenada, pela OMC e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), com a participação do Banco Mundial (Bird) e do G-20 (bloco das 20 maiores economias do mundo). O FMI tem mandato para apresentar regras às relações monetárias entre os sócios, e esse caminho seria uma sinalização política de que Estados Unidos, China e Japão, apontados como focos das distorções cambiais atuais, não estão dispostos a dar.
A guerra cambial foi uma expressão cunhada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ele a usou para se referir a práticas como taxa de câmbio artificialmente fixada e medidas monetárias que induzem à desvalorização da moeda. As consequências dessas ações têm sido a perda de competitividade de quem não adota procedimentos semelhantes e o derretimento do dólar em países como o Brasil.
À exceção do Japão, que pediu mais tempo para tomar uma decisão, os países associados concordaram em iniciar na OMC, imediatamente, a compilação dos estudos e pesquisas já existentes sobre o assunto, a realização de um seminário com a participação de economistas independentes e a promoção de sessões do grupo de trabalho sobre Comércio, Dívida e Finanças para que os integrantes falem de suas experiências e, se necessário, encomendar estudos que possam ajudar o debate.
Já no caso de uma discussão que ultrapasse a esfera da OMC, os Estados Unidos disseram que não se sentiram preparados, no momento, para reabrir a jurisdição dos organismos multilaterais para tratar de câmbio, enquanto chineses, japoneses e coreanos argumentaram que é melhor deixar esse caminho para outra etapa.
A proposta brasileira foi apresentada ao grupo de trabalho da OMC pelo embaixador Roberto Azevêdo. Ele fez um apelo para que a relação entre câmbio e comércio ganhe prioridade na agenda internacional. Disse esperar que, em dois anos, seja concluído um diagnóstico sobre a relação entre políticas cambiais e comércio internacional.
- Não estamos sequestrando o assunto de outros fóruns internacionais, assim como não queremos renegociar as disciplinas da OMC. Também não estamos olhando para países individualmente, e sim para os conceitos. Somos flexíveis com relação ao formato, à abrangência e ao ritmo desse debate - ressaltou.
Ele esclareceu que o objetivo do Brasil é mostrar que o assunto é importante e precisa ser discutido. Disse que o governo brasileiro não espera um resultado concreto imediato.
- É um tema tão complexo, que não se chega à recomendação de regras da noite para o dia. O Brasil acredita que, promovendo essa discussão, nós estaríamos respondendo, positivamente, a dúvidas frequentes manifestadas por nossos líderes - disse ele aos demais embaixadores.
A reunião do grupo de trabalho, que normalmente desperta baixo interesse e conta com poucas pessoas, foi bastante concorrida e mais de 20 delegações pediram para falar. De forma geral, as nações que vêm sendo prejudicadas por países como a China e outros asiáticos - que desvalorizam suas moedas artificialmente em relação ao dólar, para serem mais competitivas - defenderam a ideia brasileira.
Em seu discurso, o embaixador brasileiro lembrou que o impasse entre câmbio e comércio começou a ser sentido mais profundamente a partir da crise global, em 2008.