VALOR ECONÔMICO -SP – 25 de julho
Ao determinar, no início do governo, que a economia teria que ter um "pouso suave", com desaceleração paulatina do crescimento e manutenção de uma "razoável" oferta de emprego, a presidente Dilma Rousseff delimitou o raio de ação do Banco Central para o controle da inflação. "Desde o início fizemos uma pauta clara: controlar a inflação e, para isso, fazer um ajuste na nossa política de gastos com custeio e investimentos e, também, cumprir o superávit primário que nós nos comprometemos a fazer", disse a presidente, em conversa com um pequeno grupo de jornalistas. "Fazer a convergência da inflação para a meta de 4,5% no curtíssimo prazo seria danoso. Derrubaria o crescimento econômico para zero e não resolveria a inflação", argumentou a presidente, explicando que uma contração da atividade econômica para derrubar os preços acabaria por comprometer o aumento da oferta, necessário para que o país cresça sem pressões inflacionárias.
Ela chamou a atenção para o desempenho fiscal dos primeiros cinco meses do ano, quando o governo central produziu superávit primário de R$ 45,5 bilhões, mais da metade do compromisso para o ano -R$ 81,7 bilhões. "Estamos com sobra e não vamos gastar essa sobra, porque tenho compromisso com o controle da inflação", garantiu. "Estamos usando todos os instrumentos que todos concordam que têm ser usados para conter a inflação. E estamos tentando isso com algum sucesso."
A partir do diagnóstico de que a inflação, cuja aceleração já vinha do segundo semestre de 2010, era resultado do descasamento entre a oferta e a demanda, caberia ao BC, através do arsenal de política monetária, conter a expansão do consumo sem "derrubar" o crescimento nem provocar desemprego.
Frente a esse quadro, o Banco Central teve que optar por uma política de aumento gradual da taxa de juros e pelo uso de instrumentos macroprudenciais para controlar a expansão do crédito em setores pré-determinados. "Acho que o BC tem tomado as medidas de forma correta, usando a taxa de juros como principal mecanismo, mas sem deixar de usar instrumentos macroprudenciais", afirmou Dilma. Sem se comprometer com prazo nem garantir que fará a convergência da inflação para a meta em 2012 a qualquer preço, ela disse: "Espero que a convergência se dê no menor prazo possível".
Outra informação importante dada pela presidente na entrevista refere-se à taxa de câmbio. Apesar das recorrentes declarações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que o governo usará um arsenal de medidas para conter a apreciação do real sobre o dólar, Dilma foi clara ao descartar, no momento, medidas mais ousadas nessa direção. "Você acha que a gente pode fazer alguma coisa num momento em que não se sabe se o pessoal está brincando na beira do abismo ou se, de fato, está criando uma rede de proteção para não cair no abismo?", indagou a presidente.
Embora a situação dos EUA, hoje, seja dramática, diante da resistência do Congresso em aumentar o teto da dívida pública, Dilma não acredita na possibilidade de um default americano. "É uma coisa tão absurda, mas nunca se sabe da irracionalidade da política." Na Europa, o último pacote de socorro iniciou um processo - "foi um Plano Brady para eles" -, mas tudo indica que não será suficiente. "De qualquer forma, o mundo está andando de lado. Deixa ele andar para frente ou para trás que a gente faz...", indicou a presidente. Ela vai anunciar, nos próximos dias, medidas que podem ajudar a indústria nacional a conviver com o câmbio apreciado por mais um tempo. São incentivos fiscais para a produção de manufaturados exportáveis, aumento da exigência de conteúdo nacional para a produção, compras governamentais direcionadas para estimular o índice de nacionalização e novos instrumentos de defesa comercial.
A presidente não detalhou as medidas, que serão anunciadas dia 2 de agosto, "porque ainda não há decisão", mas adiantou que a desoneração da folha de salários das empresas - iniciativa prometida há cinco anos por Mantega - não fará parte desse novo programa de inovação. "A desoneração virá na sequência", disse. Não se espera que esses estímulos compensem, mesmo que parcialmente, a sobrevalorização brutal da taxa de câmbio para a indústria, mas, de qualquer forma, são medidas que podem reduzir um pouco o custo de produção no país.
Há outras providências que o governo espera poder anunciar em breve, segundo a presidente. Uma delas, que está sendo estudada pelo Ministério da Educação, é aproveitar a crise nos EUA e Europa para atrair "cérebros" de fora para o país. O MEC avalia a possibilidade de criar uma carreira temporária para professores estrangeiros nas universidades brasileiras. Seria um contrato por cinco anos, renováveis por mais cinco.
Segundo Dilma, fala-se que a Nasa, a agência espacial americana, por exemplo, demitiu 4 mil engenheiros desde a crise de 2008. Esse programa seria a contraface externa para o Brasil sem fronteiras, que pretende enviar para as 30 melhores universidades do mundo 75 mil estudantes do país. Eles serão escolhidos entre os melhores do Enem, do ProUni e das faculdades privadas. O governo estima gasto de R$ 3 bilhões com a concessão de bolsas para manter esses estudantes no exterior.