Apesar das vitórias no Congresso, a presidente Dilma Rousseff está preocupada com um curto circuito na linha de transmissão entre o Planalto e a articulação política. No governo, já se detectou que é bastante delicado o clima entre a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e o líder do governo na Câmara,Cândido Vaccarezza (PT-SP).
Lideranças de partidos aliados garantem que os dois têm uma relação estritamente formal, o que rendeu momentos de tensão ao longo do primeiro ano do governo Dilma Rousseff.
Diante das dificuldades de diálogo entre os dois, o líder do PT na Câmara, deputado Paulo Teixeira (SP), ganhou relevância e, aos poucos, assumiu papel de destaque na interlocução entre Câmara e o Planalto.
A aposta agora é que Vaccarezza acabe substituído pela presidente Dilma na reforma ministerial programada para o início de 2012. Antes considerado o patinho feio do PT, Teixeira é hoje o mais cotado para assumir o cargo." Enquanto o Vaccarezza acumulou desgastes com o Planalto, o Paulo Teixeira soubesse cacifar ao defender com unhas e dentes propostas do governo", observa um petista.
Ficou cada vez mais usual o líder do governo e a ministra ficarem em lados opostos em votações de interesse do Palácio do Planalto.
Um dos exemplos citados pelos aliados como demonstração do desgaste de Vaccarezza com o governo foi a primeira votação do Código Florestal,em meados do ano, na Câmara. Apesar de a presidente ter avisado que não estava disposta a ceder aos ruralistas, o líder se bandeou para o lado do PMDB e dos grandes proprietários de terra. Enquanto isso, Teixeira assumiu praticamente sozinho a defesa do Planalto, ficando isolado sem poder evitar o que foi, até hoje, a maior derrota do governo Dilma na Câmara.
Outro episódio lembrado tanto por aliados quanto pela oposição foi a eleição da ex-deputada Ana Arraes (PSB-PE) para o Tribunal de Contas da União (TCU). Na época, Vaccarezza fez campanha aberta pela indicação do hoje ministro de Esportes, Aldo Rebelo (PC do B-SP).
A falta de empatia entre Vaccarezza e Ideli às vezes chega a extremos.
Foi o caso da votação do primeiro e do segundo turno da prorrogação da Desvinculação das Receitas da União(DRU) até 2015, proposta tida como essencial para o governo, Ideli se instalou de mala e cuia no gabinete da presidência da Câmara e não arredou o pé com receio de que o líder acabasse cedendo aos apelos da oposição e fechasse acordo para reduzir o tempo de vigência da DRU.
Ao eleger Teixeira como interlocutor confiável junto ao Planalto, Ideli acaba deixando Vaccarezza em maus lençóis, com a base aliada à deriva em algumas votações de interesse do governo.