Vant: PF pagou R$1,9 milhão para treinar piloto. E o Vant não decola

Vant: PF pagou R$1,9 milhão para treinar piloto. E o Vant não decola

O Globo - 1 0 de Janeiro de 2012

A Polícia Federal pagou R$1,9 milhão a uma empresa israelense pelo   treinamento de cada piloto dos veículos aéreos não tripulados (Vants),   os chamados aviões espiões, que já operam na fronteira do país. A   constatação é do Tribunal de Contas da União (TCU), que considerou o   valor "desproporcional". Em decisão sigilosa, à qual O GLOBO teve   acesso, o TCU cobra explicações à cúpula da instituição, incluindo o   ex-diretor-geral Luiz Fernando Corrêa e a ex-diretora de Inteligência   Mara Toledo de Santana.

A compra dos Vants foi uma das principais  propostas  apresentadas pela presidente Dilma Rousseff na campanha  eleitoral de  2010. A ideia foi apresentada ao governo por Corrêa e  encampada pela  presidente. O uso dos Vants era a resposta do governo às  críticas,  inclusive do candidato do PSDB José Serra, sobre a falta de   fiscalização das fronteiras. Setores militares veem com desconfiança o   uso dos aviões pela polícia.

Cursos tiveram custo total de R$24,6 milhões

Conforme  auditoria do tribunal sobre o contrato com a  Israel Aerospace  Industries (IAI), que forneceu os Vants e a  capacitação aos policiais,  os cursos teórico e prático para 13  operadores do sistema custaram  US$13,43 milhões (R$24,6 milhões). A  cifra representa quase a metade dos  US$27,9 milhões (R$51,23 milhões)  empregados na compra das duas  aeronaves já no país. Uma delas monitora a  Tríplice Fronteira.

Além  de a verba ser considerada alta pelo TCU, os  auditores apuraram  indícios de que ela foi mal aplicada. Entre os  pilotos treinados a peso  de ouro, havia servidor prestes a se aposentar  e sem compromisso de  prestar os serviços a médio ou longo prazo.

Para o tribunal, falta  "justificativa válida" para  os valores praticados no contrato, firmado  sem licitação. A PF  apresentou declaração do governo de Israel de que os  preços cobrados do  Brasil são "justos", além de outros contratos da  IAI, que serviram de  referência. Porém, eles não se referem  especificamente a treinamento,  segundo os auditores.

Atual diretoria diz que só se manifesta nos autos

Aprovada  em sessão secreta no fim de novembro, a  decisão do TCU dá 15 dias para  que os responsáveis pelo projeto se  expliquem. Eles recorreram, pedindo  mais prazo. Quase todos são da  gestão anterior da PF, que trocou de  comando no início de 2011.  Questionada, por meio da assessoria de  imprensa, a atual diretoria  informou que só vai se manifestar nos autos,  tendo em vista que o  processo é sigiloso.

Ao todo, o sistema Vant  previa investimentos de  R$401,9 milhões até o fim de 2011. O Vant é  visto com reservas dentro  da própria Polícia Federal. Alguns delegados  consideram que o avião  espião e suas bases operacionais têm uma  estrutura pesada demais e  consumirão energia excessiva para resultados  pontuais e ainda não  comprovados.