Luis Nassif On Line
Coluna Econômica
09/03
Entrevista relevante a de Edward Mott, fundador e CEO da Oxford Capital Partners, a Humberto Sacomandi, do Valor Econômico, alerta: o tsunami monetário mundial mal começou.
Trata-se do movimento dos bancos centrais da Europa, Inglaterra, Japão e Estados Unidos, de injetar dinheiro na economia global, visando prevenir a crise bancária. A economia global já foi irrigada em US$ 4,7 trilhão, mas o volume maior desses recursos mal começou a circular, segundo Mott. O que aconteceu até agora não passa de uma marolinha.
É um movimento que não terminou. Em 21 de dezembro o BCE (Banco Central Europeu) emprestou € 489 bilhões a 523 bancos; na semana passada, mais € 529,5 bilhões a 800 bancos. O prazo foi de três anos a taxas de 1% ao ano, abaixo da inflação da zona do euro, que é de 2,6% ao ano.
Foi alcançado o objetivo maior, de reduzir o prêmio pago pelos governos nacionais na rolagem de suas dívidas. Mas o crédito não chegou às empresas. A maior parte dos recursos está sendo aplicado em títulos da dívida dos países mais seguros e em depósitos no próprio BCE.
Pelos cálculos de Mott, mais da metade dos empréstimos do BCE está depositada no próprio banco, rendendo apenas 0,25% ao ano. Se recebem a taxas de 1% ao ano e aplicam a 0,25%, obviamente os bancos estão perdendo dinheiro. Isso se deve à cautela excessiva, para o caso de, por exemplo, um default caótico da Grécia.
Conclusão de Mott: é o maior volume de liquidez empoçada da história.
É esse medo que tem impedido um fluxo maior de recursos para os emergentes Vai chegar um momento em que de algum modo se resolverá a situação grega e o risco internacional cairá.
Haverá três fatores impulsionando uma bolha próxima:
A redução do risco sistêmico global.
O diferencial de juros entre países desenvolvidos e emergentes.
A perspectiva de valorização dos ativos dos emergentes, antes do próximo crash.
Esses movimentos já foram exaustivamente estudados na literatura econômica, especialmente após as diversas bolhas ocorridas dos anos 80 para cá.
Os gestores de fundos colocam a mão no gatilho, esperando o início do ciclo.
Dado o tiro de largada saem correndo, apostando na valorização adicional dos ativos da vez (os emergentes). Quem chegar primeiro ganha na valorização.
Entram no jogo com todos os sentidos ligados. Ao primeiro sinal de fim do ciclo de alta, começará a corrida. Quem sair primeiro, ganha – ao vender seus ativos no pico. Quem demorar, perde. Daí porque a corrida será louca.
Esse desenho de um novo “crash” é tão previsível quanto as crises a que o Brasil se expos nos anos 90. A cada crise, em vez de corrigir o câmbio, o governo FHC promovia um aperto fiscal, derrubava a atividade econômica e a economia permanecia exposta aos novos movimentos especulativos.
Desta vez há um diagnóstico maduro – até em função do aprendizado com as velhas crises -, uma consciência clara dos riscos do grande tsunami, estudos exaustivos sobre prós e contra de medidas a serem adotadas.
Falta começar a agir. Não dá mais para adotar medidas convencionais contra um tsunami que já apontou no horizonte.