Dilma troca líderes, vive crise, mas diz que a “base é coesa”

Congresso em Foco- 13 de março


Em meio à rebelião de parte de seus aliados, presidenta vai ao Congresso para receber o Prêmio Bertha Lutz e enfrenta seus adversários de frente


Em meio à troca dos líderes do governo no Senado e na Câmara, a presidenta Dilma Rousseff afirmou que possui uma equipe “conjunta e coesa” na base do governo. A afirmação foi feita no plenário do Senado, durante a cerimônia de entrega do prêmio Bertha Lutz, que homenageia a luta em prol dos direitos das mulheres.


A declaração, no entanto, foi feita em um contexto conturbado nas duas Casas legislativas. Na semana passada, os senadores rejeitaram a recondução de Bernardo Figueiredo para a diretoria-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). O resultado foi considerado um claro recado à presidenta. O PMDB apostava na ideia de que Dilma recuaria e chamaria os partidos para conversar. Além disso, uma série de votações de matérias prioritárias para o governo ficaram paralisadas.


Porém, ontem (12), a presidenta destituiu do cargo de líder do governo o senador Romero Jucá (PMDB-RR), que será substituído pelo senador Eduardo Braga (PMDB-AM). Hoje pela manhã (13), a presidenta também tirou da liderança na Câmara dos Deputados o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP). Até o momento, não há a indicação de quem será seu substituto. O anúncio de sua saída foi feito ainda durante a cerimônia que ocorria no Senado.


Prêmio


Dilma foi uma das premiadas com o Bertha Lutz. Durante seu discurso, Dilma Rousseff ressaltou os grandes feitos femininos nos últimos anos e cobrou que, assim, como hoje acontece no Executivo, o comando do Congresso seja também feito tanto por homens como por mulheres, para demonstrar que ambos os gêneros atuam em conjunto. “Como eu e o vice-presidente Michel Temer”, comparou. Na Câmara, a vice-presidência é ocupada pela deputada Rose de Freitas (PMDB-ES).


Dilma afirmou saber da importância que a sua chegada à Presidência representa para a história do país, e garantiu que uma das principais metas do governo é ampliar a igualdade entre homens e mulheres. “Sinto-me representando as 97 milhões de brasileiras que são decisivas para o processo de transformação do Brasil”, disse. A presidenta ainda afirmou que o país não será uma “uma nação desenvolvida se, ao invés de a gente conviver com a ampliação da igualdade, convivermos com a ampliação da pobreza, como vem acontecendo infelizmente nos países desenvolvidos”.


Para o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), as provas traumáticas pelas quais a presidenta passou durante a ditadura militar poderiam tê-la tornado uma pessoa “amarga”. Mas, segundo Sarney, Dilma é uma “uma mulher extraordinária” e ‘grande administradora”. O peemedebista também falou sobre outras conquistas femininas e lembrou, dentre outros exemplos, sua filha Roseana Sarney (PMDB-MA), que foi a primeira governadora do país. Os elogios feitos por Sarney chamaram a atenção, já que ele é considerado um dos derrotados após a saída de Romero Jucá da liderança do governo.


Discursando antes de Sarney, o presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS), classificou a presença feminina em instâncias superiores do governo como um “avanço extraordinário”, mas ressaltou que o gênero ainda é subrepresentado politicamente. Nesta legislatura, são apenas 45 deputadas, do total de 513 vagas.


Bertha Lutz


O prêmioBertha Lutz é concedido a personalidades femininas que tenham trabalhado pelos direitos das mulheres e pela ampliação do seu espaço na sociedade. Além da presidenta Dilma Rousseff, foram homenageadas também Maria do Carmo Ribeiro, ex-mulher do dirigente comunista Luiz Carlos Prestes (1898-1990); a primeira senadora da história do Brasil, Eunice Mafalda Michiles; a representante da Comissão Pastoral da Terra Rosali Scalabrin; e a professora associada do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal da Bahia Ana Alice Alcântara da Costa, do Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres.


Esta é a 11ª premiação desde a criação do diploma, em 2001, com o nome de Bertha Lutz(1894–1976), que foi uma das pioneiras do feminismo no Brasil, líder na luta pelo direito de voto das mulheres. A indicação dos nomes para receber o prêmio pode ser feita por qualquer entidade de âmbito nacional, governamental ou não. Os nomes são, depois, avaliados por um conselho, que escolhe cinco agraciadas. Para a premiação deste ano foram 30 indicações.