Ministro dá os contornos da política econômica de 2013

Valor Online – 31 de janeiro de 2013


O ministro da Fazenda, Guido Mantega, deu ontem os novos contornos da política econômica para 2013. Ele sinalizou limites para a valorização do câmbio, indicou que a política fiscal segue anticíclica e deixou a porta aberta para o Banco Central subir os juros. Mas expressou sua preferência por instrumentos heterodoxos de combate a inflação, como medidas macroprudenciais.


"A política cambial não mudou", disse Mantega, num encontro de prefeitos em Brasília. "O câmbio é flutuante. Deixaremos flutuar, mas se exagerar na dose a gente conserta", seguiu adiante, expressando conforto com a recente valorização do real, mas deixando explícito que há um piso para esse movimento. Só faltou Mantega dizer qual é o patamar aceitável para o dólar.


De volta das férias, depois de um período de forte pressão para a sua demissão, Mantega fez um discurso combativo na defesa da política econômica, energizado pela sua confirmação no cargo pelo Palácio do Planalto. Sobraram ataques para a mídia, acusada de "mau-humor", para os investidores que estão "choramingando" por causa da queda dos juros e para "o pessoal que gostava do dólar valorizado porque era mais barato ir para Miami".


Na sua apresentação, Mantega resumiu assim o regime cambial na nova matriz macroeconômica: flutuante, mas que mantém a competitividade. "A desvalorização deu competitividade para a indústria", disse. "É importante aumentar o emprego e não deixar a indústria se atrofiar por uma concorrência desleal."


Numa entrevista coletiva logo após o discurso, Mantega deu mais detalhes de sua visão sobre o câmbio. A cotação em um valor mais competitivo, afirmou, reflete "um equilíbrio natural na taxa de câmbio", determinado pela redução do diferencial entre a taxa de juros interna e externa do país. Por fim, disse que a taxa de câmbio não é instrumento para controle da inflação. A mensagem foi dirigida para investidores que montavam posições especulativas com a lógica de baixa do câmbio para segurar preços.


Para a plateia de prefeitos, Mantega deu indicações sobre a direção da política fiscal, sinalizando a possibilidade de flexibilizá-la para acomodar eventuais políticas anticíclicas. "Vamos continuar com a política fiscal anticíclica", disse, logo depois de explicar que o resultado fiscal de 2012 foi menor do que a meta justamente para acomodar medidas que combatiam a desaceleração econômica. "Fizemos 2,4% do PIB, e é um excelente resultado, porque é suficiente para reduzir o endividamento."


Ao ser questionado sobre a possibilidade de baixar mais os juros, Mantega disse que essa é uma decisão que cabe ao BC. Mas sinalizou alguns limites para a política monetária, ao apontar a possibilidade do uso de medidas alternativas, como aperto nos requerimentos macroprudenciais, e ao opinar que uma eventual elevação dos juros não precisaria ser tão forte quanto no passado.


"Podemos usar outros instrumentos para combater a inflação", disse, referindo-se à hipótese de ser necessário reagir a um eventual surto inflacionário. Ele citou políticas macroprudenciais e taxação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).


Mas não descartou o uso de juros, ao afirmar que a taxa Selic "não está engessada". "Pode usar para controlar a inflação", afirmou. Mas ponderou: "Se vir a subir, não vai ser uma sangria desatada." Para ele, uma eventual alta de juros seria mais moderada que no passado. Percentuais de alta como 0,5% e 1% podem ser suficientes, em vez de valores tão altos como 3% ou 4% do passado.


Mantega rebateu críticas feitas por economistas de que o mercado de trabalho excessivamente aquecido está levando a aumentos de salários acima dos ganhos de produtividade, corroendo a competitividade das empresas. "Essas pessoas não têm coragem de falar com clareza porque pega mal. Baixo desemprego significa que o salário continua crescendo. Eles olham só pelo lado do custo. Não olham que o trabalhador com salário cria mercado consumidor."