Com a saída de Nelson Barbosa, Fazenda perde seu grande articulador

 

Nelson Barbosa, que sai. E Arno Augustin, que sobe

A saída de Nelson Barbosa é a comprovação eloquente da perda de referencial da Fazenda e a falta de feedbacks da presidente Dilma Rousseff.

Barbosa não era unanimidade apenas entre os empresários que buscavam interlocutores. Era também entre os ministérios da área econômica e instituições ligadas à Fazenda.

Sempre foi o mais objetivo dos assessores da Fazenda e aquele com visão mais técnica e apurada sobre mudanças econômicas, sabendo entender as implicações sobre o funcionamento da economia.

Não apelava para o voluntarismo fácil dos ignorantes. Foi o principal implementador das medidas econômicas de 2008, que mostraram que é possível ser proativo na economia, sem atropelar as regras de funcionamento do organismo econômico.

Foi fundamental na montagem da estratégia – desenhada logo após a eleição de Dilma – que culminou na redução da taxa Selic e na melhoria relativa do câmbio.

Em todos os momentos esbarrou na resistência férrea do Ministro da Fazenda Guido Mantega, menos pela divergência de conceitos, mais pela competição, por ver em Barbosa um eventual concorrente ao posto de Ministro da Fazenda.

Mantega se valeu da pressa de Dilma em obter resultados para oferecer pratos rápidos e mal preparados, tendo como cozinheiro o Secretário do Tesouro Arno Augustin.

Competição e incapacidade analítica fizeram com que o Ministro Guido Mantega encampasse as teses de Arno Augustin de maquiar os resultados do superávit primário de 2012, em vez de seguir os conselhos de Barbosa, de anunciar uma redução da meta – mais que justificável, dado o baixo desempenho do PIB. Em outros Ministérios econômicos – que participaram das discussões – ficava claro a preponderância dos argumentos de Barbosa. Mas a palavra final acabou sendo de Guido.

Coube a Barbosa alertar para aquelas que se constituíram as decisões mais problemáticas do governo na área de concessões, um acúmulo de erros que acabou nublando até o mérito inegável das propostas apresentadas.

Do mesmo modo, foi vencido nas propostas de retomar as reformas micro-econômicas, abandonadas desde a saída de Marcos Lisboa da Secretaria de Política Econômica da Fazenda.