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BRUNO CALIXTO
10/09/2014 07h00 - Atualizado em 10/09/2014 08h25
Vivemos em um mundo globalizado, onde todo o tipo de material é comercializado entre os países. Todo mesmo: nem o lixo escapa. Mas é correto que países ricos exportem os resíduos sólidos, geralmente para países mais pobres? E como enfrentar um imenso mercado negro da venda de lixo, que segundo estimativas movimenta bilhões por ano?
ÉPOCA conversou com dois especialistas no assunto. O britânico Jeff Cooper e o dinamarquês Björn Appelqvist fizeram um estudo sobre tráfico de resíduos para a International Solid Waste Association (ISWA), organização internacional sobre manejo de resíduos sólidos. Eles estão no Brasil para o Congresso Mundial de Resíduos Sólidos ISWA 2014, organizado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), que ocorre nesta semana em São Paulo. Segundo os especialistas, os países pobres podem se beneficiar do comércio de resíduos, desde que ele seja feito dentro das regras, evitando contaminação ao meio ambiente e à saúde da população.
>> Fechar os lixões é possível
ÉPOCA - Exportar lixo é uma atividade ilegal?
Björn Appelqvist - O termo 'tráfico de resíduos' geralmente se refere a uma atividade ilegal. Mas temos que reconhecer que vivemos em um mundo globalizado, com muitas trocas de materiais e de recursos. Isso acontece também com lixo e com matéria-prima secundária. A maior parte desse comércio é boa. Esse mercado permite que países consigam materiais que antes não tinham. A má notícia é que, como todo comércio, há uma tendência de alguns grupos buscarem preços mais baratos e lucros mais altos, o que acaba gerando uma atividade ilegal.
Jeff Cooper - Um ponto que é importante ressaltar é que, além dos resíduos sólidos, há muito comércio de produtos que estão fora de linha em determinados países. Pense nos carros, por exemplo. Pode ser que um carro esteja em pleno funcionamento, mas tenha perdido o valor que tinha no país de origem porque ninguém mais quer comprá-lo. Esses carros são transportados para outra parte do mundo, onde ainda têm valor. Não é algo que aconteça no Brasil, mas acontece por exemplo na Europa, onde carros são transportados da Alemanha para países do sul da Europa ou do oeste da África. Isso é bem comum. O plástico é outro exemplo. Pelas metas de reciclagem da Europa, o plástico pode ser reprocessado no exterior. Isso significa que China, Índia, ou outros países estão reprocessando o plástico europeu. Dessa forma, eles têm acesso a um plástico muito mais barato do que se produzissem novos materiais a partir do petróleo, o que é bom. Um dos grandes problemas é a qualidade do plástico que está sendo exportado. Alguns operadores se aproveitam de brechas e exportam material com qualidade muito baixa.