Rede Brasil Atual - 6 de janeiro de 2015
Diante de um público formado por ministros, governadores e empresários do porte de Jorge Gerdau Johannpeter (Grupo Johannpeter), Luiza Trajano (Magazine Luiza), o banqueiro Olavo Setúbal (Itaú) e vários dirigentes do Bradesco – instituição de onde saiu para o governo –, o economista Joaquim Levy tomou posse nesta segunda-feira (5) do cargo de ministro da Fazenda associando a ideia de que as medidas de ajuste fiscal a serem implementadas dentro de pouco tempo marcam o início de uma nova era no governo Dilma Rousseff.
Tais medidas possuem, portanto, o desafio de se constituir num marco da economia para os próximos anos e para o desenvolvimento do país, nem que para isso seja necessário aumentar impostos. Mas deixou claro que para a realização do seu trabalho buscará diálogos com agentes econômicos e com os outros ministérios.
Utilizando, como esperado, o termo ajuste fiscal como mote de todo o seu discurso, o ministro destacou que o equilíbrio fiscal nem sempre é fácil, mas é indispensável. “É a chave primordial para aumentarmos o crédito, que permite aos empreendedores investir e gerar empregos para mantermos a credibilidade da economia e o desenvolvimento do país”, acentuou. Lembrou, também, que o equilíbrio das contas públicas “é condição indispensável para manter a justiça social”.
Levy agradeceu a confiança depositada nele pela presidenta Dilma (que se encontra em férias na Bahia até o final da semana), prometendo trabalhar para corresponder às expectativas. Disse que a democracia brasileira deu prova de excelência ao reafirmar o governo de Dilma e, por consequência, reafirmar o que chamou de “consenso imperativo da disciplina fiscal para o crescimento econômico e o desenvolvimento sustentável”. Ressaltou que “ajustes de tributos serão considerados, especialmente os usados para estimular a poupança doméstica e corrigir desbalanços tributários entre os setores”.
Expectativa do empresariado
A solenidade revelou a expectativa dos representantes do empresariado que acentuaram, ao serem questionados pelos jornalistas, a intenção de dar um período de adaptação do novo ministro ao cargo e de realização dos ajustes na economia que estão sendo prometidos para só então apresentarem demandas de cada setor. O presidente do Itaú, Roberto Setubal, elogiou Levy e frisou que está confiante na realização de um bom trabalho. Já um dos diretores do Bradesco Octávio de Barros afirmou que o ano de 2015 será de transição e, embora tenha todos os ingredientes para ser um ano ruim, pode vir a ser bom com a estruturação de uma plataforma sólida para o futuro.
Para Luiza Trajano, a escolha de Levy para comandar a economia do país teve consenso de todos por se tratar de um técnico reconhecido. "Ele fez um ótimo trabalho no Rio e acredito que fará um bom trabalho para o Brasil", ressaltou, enfatizando esperar que Levy "acerte" os públicos e não deixe de investir no social. "Tem que estabilizar a economia e voltar a crescer. Para nós, o importante é gerar emprego e renda, e o emprego no país não tem como retroagir", completou.
Jorge Gerdau Johannpeter, presidente do Grupo Johannpeter, afirmou que o importante é que o novo ministro da Fazenda construa caminhos para o crescimento da economia, embora ele próprio não espere um crescimento de curto prazo. O empresário afirmou que considera necessária a realização dos ajustes aguardados, mas evitou tocar no assunto.
Retrospectiva de 12 anos
A solenidade de posse de Joaquim Levy foi marcada também, durante a transmissão do cargo pelo ministro interino da Fazenda, Paulo Caffarelli – que substituiu o ministro Guido Mantega –, por uma retrospectiva concisa sobre o trabalho da equipe econômica desde o início do governo do PT, em 2003 (quando assumiu a presidência Luiz Inácio Lula da Silva). Ao homenagear Mantega, Caffarelli acentuou que ele foi o ministro mais longevo da Fazenda que o país teve, uma vez que ficou no cargo durante oito anos e nove meses: "Ele (Mantega) deu sua vida à construção de um Brasil mais desenvolvido”, colocou.
“Por 12 anos foi implantada uma política econômica que levou os brasileiros a migrarem para uma nova classe média, houve aumento do mercado de consumo e de massa e o país entrou num ciclo de expansão. Comandar uma economia jovem não é tarefa simples. Depois da crise mundial de 2008 o Brasil viveu uma fase de ajuste da economia e mesmo nos momentos mais turbulentos, o país manteve seus patamares econômicos. Isso não seria possível se a política implementada não conseguisse aumentar o emprego e a renda”, acentuou.
O ministro interino acrescentou: "Os resultados obtidos foram possíveis porque tivemos respaldo político da presidenta Dilma Rousseff e do Congresso Nacional". Em relação a Levy: "Grandes batalhas são dadas a grandes guerreiros".
Secretários do ministério
A equipe do Ministério da Fazenda, anunciada durante a posse de Levy, é formada por nomes conhecidos. O secretário-executivo será Tarcísio Godoy. A Secretaria da Receita Federal ficará a cargo de Jorge Rachid, que já ocupou o cargo. Para a Secretaria do Tesouro Nacional foi indicado Marcelo Santili Barbosa e para a de Política Econômica, Afonso Arino de Melo Franco Neto. O secretário de Assuntos Internacionais será o diplomata Luís Balduíno.
Foram mantidos dois secretários da gestão de Guido Mantega: o de Assuntos Econômicos, Pablo Fonseca, e a procuradora-geral da Fazenda Nacional, Adriana Queiroz. Além disso, o ex-secretário da Receita Federal Carlos Alberto Barreto será o diretor do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), órgão que já comandou.
O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, segundo informações anteriores, já tinha combinado com a presidenta Dilma e com o próprio Levy de não participar da transmissão do cargo em função de projetos pessoais fora do país. A cerimônia de posse foi realizada no auditório do Banco Central.
Engenheiro, professor e doutor
Engenheiro naval, o carioca Joaquim Levy é doutor em Economia pela Universidade de Chicago, com mestrado em economia pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ele iniciou a carreira em 1984, no Departamento de Engenharia e na Diretoria de Operações da Flumar S/A Navegação. Chefiou o Tesouro Nacional de 2003 a março de 2006, no início do governo Lula. Também foi professor do curso de mestrado da FGV em 1990, antes de integrar os quadros do Fundo Monetário Internacional, onde ocupou cargos em duas divisões, no período entre 1992 e 1999.
De 1999 a 2000 exerceu, como economista visitante no Banco Central Europeu, atividades nas Divisões de Mercado de Capitais e de Estratégia Monetária. Em 2000 foi nomeado secretário-adjunto de Política Econômica do Ministério da Fazenda e, em 2001, economista-chefe do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, assumindo o Tesouro Nacional em 2003. Ele sai da diretoria de Ativos do Bradesco para o ministério.