Agência Câmara - 20 de março de 2015
Depois de mais de quatro horas de interrogatório na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, o ex-diretor da estatal Renato Duque, denunciado por lavagem de dinheiro no processo judicial da Operação Lava Jato, se recusou a responder perguntas sobre as irregularidades na companhia e frustrou as expectativas dos deputados.
No final da sessão, ele disse ser inocente e que vai provar não ter envolvimento nas denúncias feitas pelo Ministério Público. “Eu me recusei a responder as perguntas da CPI por orientação da minha defesa, e isso não significa que eu seja culpado. Eu vou provar que meus bens não são produto de corrupção. Tenho orgulho de ter trabalhado na Petrobras e lamento o que está acontecendo na companhia”, disse. Duque acrescentou que exerceu seu direito constitucional de permanecer calado e que não pode ser punido por causa disso.
Ele compareceu à comissão como acusado e, nessa qualidade, tinha o direito de permanecer calado. Mesmo assim, os membros da CPI insistiram em fazer perguntas, às quais o acusado respondeu, mais de cem vezes, que iria permanecer em silêncio.
“Condenado e sem apoio”
A determinação de Duque em permanecer calado foi lamentada pelos deputados da CPI, que adotaram diversas táticas para tentar obter alguma declaração do acusado. “O senhor poderia colaborar com uma profunda reforma do sistema político, mas não quer colaborar”, disse o deputado Chico Alencar (PSOl-RJ).
“O senhor será condenado pelo menos a 30 anos de prisão e não terá o apoio do PT”, disse o líder do PSDB, deputado Carlos Sampaio (SP).
O ex-diretor da Petrobras é mencionado como destinatário do pagamento de propinas por pelo menos seis delatores da Operação Lava Jato: o ex-gerente de Tecnologia da estatal Pedro Barusco, o ex-diretor Paulo Roberto Costa, o doleiro Alberto Youssef e os empresários Júlio Camargo, Augusto Mendonça Neto e Shinko Nakandakari. Ele nega as acusações.
Na semana passada, Duque foi denunciado pelo Ministério Público por lavagem de dinheiro junto com outras 25 pessoas, entre elas o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. No mesmo dia, foi preso pela segunda vez e levado para a Polícia Federal em Curitiba (PR). Ele veio a Brasília prestar depoimento à CPI graças a uma autorização do juiz Sérgio Moro, que conduz o processo. O depoimento pôde ser realizado no Congresso Nacional porque o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, suspendeu ato da Mesa que proibia o ingresso de detentos nas dependências da Casa.
Poucas informações
Ao longo de todo o depoimento à CPI, Duque fugiu de sua determinação de permanecer em silêncio poucas vezes. E mesmo nessas ocasiões não ofereceu informações consideradas úteis pelos deputados da comissão. Ao responder pergunta do deputado Ivan Valente (Psol_SP), ele negou conhecer o doleiro Alberto Youssef, apontado como operador do sistema de lavagem do dinheiro usado como propina entre as empresas contratadas pela Petrobras e funcionários da estatal.
Ele negou também que sua mulher tenha ameaçado o ex-presidente Lula. Duque disse isso ao responder pergunta do deputado Izalci (PSDB-DF), que mencionou informação publicada em um blog da revista Veja, segundo o qual Duque foi solto da prisão no final do ano passado depois da intervenção de Lula junto ao ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, a pedido da mulher dele. “Minha esposa nunca esteve com o presidente Lula. Não o conhece e nunca o conheceu”, disse.
Ele também rompeu o silêncio ao responder pergunta da deputada Eliziane Gama (PPS-MA). Ela perguntou se o filho dele trabalhou em uma empresa contratada pela Petrobras, a Technip, fabricante de tubos flexíveis para a exploração de petróleo em águas profundas. A deputada queria saber se a Technip recebeu dinheiro da UTC, empresa acusada de pagar propinas a funcionários da estatal.
“Vou contrariar a orientação do meu advogado e responder essa pergunta. Meu filho trabalhou na Technip nos Estados Unidos, mas a Technip não tem nenhuma relação com a UTC”, respondeu. Duque disse que o filho dele foi contratado como head hunter (pessoa especializada na procura de profissionais ou executivos talentosos) da Technip. “Quando ele recebeu o convite, eu fiz uma consulta formal à Petrobras para saber se havia algum impedimento, e a resposta da companhia foi de que não havia nenhum problema”, disse.
Discussão
O depoimento do ex-diretor da Petrobras Renato Duque foi interrompido por discussão e troca de ofensas entre deputados do PT e o deputado Delegado Waldir (PSDB-GO). Os parlamentares do PT reagiram a uma declaração de Waldir de que seria preciso encomendar no comércio de Brasília óleo de peroba para os deputados petistas.
Os deputados Jorge Solla (PT-BA), Valmir Prascidelli (PT-SP), Maria do Rosário (PT-RS) e Afonso Florence (PT-BA) se levantaram e trocaram insultos com o deputado do PSDB, provocando uma breve interrupção do depoimento e a intervenção do presidente da CPI, deputado Hugo Motta (PMDB-PB).
Mãe ou esposa
Antes da discussão, Renato Duque provocou risos na audiência ao responder pergunta do deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), que no início da sessão anunciou que iria pedir a convocação da esposa dele.
Depois de duas horas de depoimento em que Duque se recusou a responder à maioria das perguntas, Perondi disse que iria pedir a convocação de “dona Elza”. “Dona Elza é minha mãe. O senhor quer convocar a minha mãe?”, perguntou Duque. “Quero convocar sua esposa. Quem é sua esposa?”, retrucou Perrondi. “Prefiro permanecer calado”, disse o depoente.