Agência Câmara - 30 de abril de 2015
A crise de empregos no setor de construção civil, e principalmente de construção pesada, teve início antes da Operação Lava Jato, mas a paralisação dos investimentos da Petrobras a partir das denúncias de corrupção teve papel importante na crise que se instalou no setor.
A conclusão é dos deputados que discutiram a situação de empregos do setor nesta quarta-feira (29) na Câmara, em uma audiência pública conjunta das comissões de Trabalho, de Administração e Serviço Público; e de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio. “Os indicativos econômicos já davam sinais de piora, mas, com a crise política que se instalou, as empresas estão sendo atingidas, e isso é que precisamos atacar. Se um executivo está envolvido, ele precisa ser punido, mas as empresas têm empregados e não podem ser todos atingidos”, resumiu o deputado Bebeto (PSB-BA), um dos que pediu a audiência.
O setor tem problemas não apenas com as empresas envolvidas na Petrobras: são 300 mil postos de trabalho a menos desde 2013. “Não se resume a um problema específico, há atrasos nos pagamentos de obras do PAC e do Minha Casa Minha Vida, os dois maiores programas de investimento do governo federal”, completou Bebeto.
Vagas
Entre 2010 e 2015, houve uma queda do nível de emprego de 14% na construção pesada, que representa as grandes obras e paga melhor, e de 5,8% na construção de edificações em geral. O dado foi apresentado pelo Sindicato Nacional da Indústria da Construção (Sinicon) durante a audiência.
Para o diretor-executivo do Sinicon, Petrônio Lerche Vieira, embora o total de empregos do Brasil esteja se equilibrando, o setor de construção está em crise e pode perder mais empregos se não se recuperar. "O problema é que, pelo perfil do empregado, seu preparo e escolaridade, ele não tem condições de conseguir um emprego com a mesma remuneração em outras áreas", disse.
O Sinicon representa as empresas Queiroz Galvão, Camargo Correa, Odebrecht, Construtora OAS, UTC, Mendes Junior e Galvão Engenharia.
Já para o vice-presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Joílson Cardoso, um dos problemas do setor é a alta rotatividade. Nos dados do Sinicon, o número de contratações e demissões deixava sempre um saldo positivo até 2014, mas, ainda assim, mais de 60% dos trabalhadores passavam por esse rodízio. "Claro que há uma sazonalidade, o começo e fim de grandes obras, mas é possível ver que a finalidade da troca de empregados é a redução da massa salarial", ressaltou Cardoso.
O representante da Federação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada, Eduardo Armond, afirmou que o problema já existia antes, e os sindicatos tentaram resolver várias questões com uma mesa nacional de negociação para o setor. “Muito foi resolvido, mas as empresas menores são problema do movimento sindical, porque não estão preparadas para problemas comuns, que dirá crises, e o setor é dependente de investimentos públicos”, disse.
Um exemplo foi levantado pelo presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval (Sinaval), Ariovaldo Santana da Rocha. Ele declarou que a crise que envolve a empresa Sete Brasil, responsável por estaleiros no estado do Rio de Janeiro, já causou a perda de 30 mil empregos. “É preciso um programa para salvar a Sete Brasil e impedir que a falência da empresa leve os empregos também”, disse.
O ex-deputado Giovani Queiroz, hoje secretário de Políticas Públicas do Ministério do Trabalho, disse que pelo menos a curva de empregos nas pesquisas nacionais já é ascendente, o que mostra uma recuperação do emprego no Brasil. “Temos de admitir, há uma crise no setor de construção e começa uma recuperação, mas se não houver investimentos podemos perder mais empregos”, destacou.
Ele lembrou que em maio a presidente Dilma Roussef deve anunciar um novo plano de concessões, principalmente em rodovias e aeroportos, o que deve injetar recursos no setor.
Obras paralisadas
O presidente da Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público, Benjamin Maranhão (SD-PB), disse que a comissão quer encontrar saídas para essa crise, e por isso deve visitar as obras paralisadas para ouvir de sindicatos e empresas e do governo local quais são os prejuízos.
A comissão já programou visita ao Porto de Suape (PE), no dia 8 de maio. Depois os deputados devem ir à unidade de fertilizantes da Petrobras em Três Lagoas (MS); ao estaleiro em Maragogipe (BA); ao polo naval de Charqueadas (RS); e aos locais das refinarias premium canceladas pela estatal em Bacabeira (MA) e São Gonçalo do Amarante (CE).