O Globo - 05 de junho de 2015
BRASÍLIA E SÃO PAULO - O apoio do PSDB na Câmara a projetos como o fim da reeleição e a flexibilização do fator previdenciário causou mal-estar no partido. Em menos de uma semana, dois tucanos históricos se manifestaram publicamente contra posições adotadas pela sigla. O ex-deputado Arnaldo Madeira, que foi líder do governo Fernando Henrique Cardoso na Câmara, disse na terça-feira que o PSDB tem adotado posturas contraditórias com sua história:
— Como você explica que há 18 anos apoiou a reeleição e agora, sem que o assunto estivesse na ordem do dia, você acaba com ela? Não vi ninguém fazer um estudo técnico para mostrar as vantagens e desvantagens, nem debater. É sempre o senso comum. Esse negócio da reeleição é uma demanda dos políticos que estão preocupados com seu próprio destino político. Isso vale para o PSDB e os outros partidos. Não vi ninguém na rua com cartazes pedindo o fim da reeleição — disse Madeira.
APOIO AO DISTRITÃO É CRITICADO
Semana passada, o ex-governador de São Paulo e vice-presidente nacional do PSDB Alberto Goldman enviou a integrantes da direção partidária uma carta expondo preocupações com a falta de debate interno sobre questões nacionais. Um dos episódios que o deixou inconformado foi a postura da bancada tucana na votação do distritão na Câmara.
— Estou tentando entender até agora como 21 dos 47 deputados do PSDB que estavam no plenário votaram a favor do distritão. A proposta de distritão era antidemocrática, a destruição dos partidos. Está faltando um caráter mais coletivo nas decisões.
A aprovação da flexibilização do fator previdenciário com ajuda do PSDB foi outro tema que pôs em campos opostos tucanos mais antigos e os atuais dirigentes. O instrumento foi criado na gestão FH para retardar aposentadorias e reduzir o rombo da Previdência.
— Acabar com o fator sem colocar nada à altura no lugar é irresponsabilidade. Não vejo que a situação da previdência tenha melhorado para justificar essa mudança. Está difícil de entender o partido — disse Madeira.
EX-MINISTRO TAMBÉM PREOCUPADO
Antigos militantes do PSDB como o ex-ministro Almino Affonso, que já não está mais filiado à legenda, também mostram preocupação com o comportamento do maior partido da oposição.
— Se o partido não se articula e não tem debate interno, cada qual acaba dizendo o que bem pensa, pouco importando o que seja uma resposta coletiva e partidária. Um exemplo recente é o caso do impeachment. Propor ou não propor? Qualquer um há de lembrar que isso já variou de zero a cem sucessivas vezes no âmbito da direção partidária.
Os senadores do PSDB negaram ontem haver mal-estar. Os mais próximos a FH disseram que ele não manifestou incômodo com o apoio ao fim da reeleição. Mas dizem que Madeira tem direito de se manifestar. O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), disse que é a favor do fim da reeleição porque ela “não tem feito bem ao Brasil”.
— Acho que não (tem mal-estar). O PSDB tem uma característica que é sua democracia interna. As opiniões são respeitadas. Seria apequenar a obra do Fernando Henrique limitá-la à questão da reeleição. O que aconteceu na última eleição presidencial mostra que a reeleição não tem feito bem ao Brasil — disse Aécio.
TASSO DIZ QUE PSDB É TRANSPARENTE
O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que presidiu o partido, disse que o PSDB não é “totalitário” e que ele, por exemplo, é a favor da reeleição.
— Não somos totalitários. É um partido transparente.
O senador Aloysio Nunes Ferreira (SP) também se disse a favor e negou mal-estar no partido. E o senador José Serra (SP) afirmou ser favorável ao fim da reeleição. O líder do PSDB, Cássio Cunha Lima (PB), disse que as decisões tomadas nas votações foram todas discutidas entre os parlamentares.