Correio Braziliense - 23 de junho de 2015
Economistas de bancos esperam alta do PIB de apenas 0,7% no próximo ano, em vez do 1% previsto há quatro semanas. Para este ano, a estimativa de queda passou de 1,24% para 1,45%
A piora nas expectativas já contaminou 2016. Em apenas quatro semanas, analistas de instituições financeiras consultados pelo Banco Central (BC) para o Boletim Focus derrubaram a previsão de crescimento para o próximo ano de 1% para 0,7%. Entre os mais pessimistas, há quem acredite que o Produto Interno Bruto (PIB) possa cair no ano que vem.
Para este ano, a previsão de queda passou de 1,24% para 1,45% nas últimas quatro semanas. Mas alguns economistas, como José Luis Oreiro, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), acreditam que o PIB possa se reduzir 2% neste ano. Segundo ele, o aumento da taxa Selic, promovido pelo Banco Central (BC), leva a esse quadro. Para evitar uma piora no crescimento, acredita, o BC deveria estender para 2017 o período de convergência da inflação para o centro da meta de 4,5%. "Se o BC quiser atingi-lo em 2016, vai ter que aumentar mais ainda a taxa de juros, o que seria uma medida insustentável política e socialmente", afirmou. Ele acredita que a única opção viável para melhorar as expectativas, no cenário atual, seria promover uma maior desvalorização da taxa de câmbio. "Teria de passar de R$ 3,10 para R$ 3,50, no mínimo. Com o aumento de exportações, seria possível começar uma recuperação da economia no segundo semestre de 2016."
O presidente do Conselho Federal de Economia (Confecon), Paulo Dantas da Costa, concorda que a taxa básica de juros está alta. Para ele, o problema não é o remédio usado pela política monetária, mas a dosagem. "O preço para a sociedade tem sido muito alto", afirmou. Entre os efeitos negativos do juro alto, ele mencionou o prejuízo ao controle das despesas públicas, a inibição de investimentos e a concentração de riquezas.
Para o economista Carlos Eduardo de Freitas, presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-DF) e ex-diretor do Banco Central, as previsões do mercado estão dentro do esperado. "O PIB representa os gastos e, no momento, eles têm que ficar baixos, para o país voltar à linha do orçamento", explicou. Segundo ele, a questão das taxas de juros não é o problema, e os aumentos estão dentro das medidas necessárias para a melhora na economia. O que dificulta a melhora das expectativas, diz, é o descrédito no ajuste fiscal, que considera fraco. Além disso, a falta de posicionamento claro do governo em relação à economia inibe os investimentos. "As pessoas não sentem confiança nas medidas e no comportamento do governo, têm dúvidas se ele é pró-mercado ou contra o mercado", explicou.
Mesmo com juros altos, o mercado não vê trégua para a inflação neste ano. A expectativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), no Focus passou de 8,37%, há um mês, para 8,97%.
Cheques devolvidos
Com a desaceleração da economia e o avanço da inflação, as devoluções de cheques pela segunda vez por falta de fundos foi de 2,29% em maio, o maior nível dos últimos seis anos para o mês, e o terceiro maior de toda a série histórica, iniciada em 1991. O índice só ficou maior em maio de 2009, quando atingiu 2,52%, e em maio de 2006, com 2,37%. Em abril deste ano, foi de 2,26%. Segundo os economistas da Serasa Experian, responsável pelo levantamento, a elevação ao longo de 2015 se deve à alta do custo de vida e aos impactos negativos das taxas de juros e do desemprego sobre a capacidade de pagamento das pessoas.