G1 - 04 de agosto de 2015
Nas pouco mais de duas horas que durou o churrasco oferecido aos líderes e presidentes de partidos no Palácio da Alvorada, a presidente Dilma Rousseff não disse uma palavra sobre a prisão do ex-ministro José Dirceu na 17ª fase da operação Lava-jato, mas o assunto dominou as conversas de ministros, deputados e senadores. O clima descrito pelos presentes era de muita preocupação com o desfecho político das investigações e o consenso foi que o alvo final é o ex-presidente Lula. Dilma disse que não tem medo e que ninguém deve temer o que vem pela frente.
Apesar de não citar especificamente a prisão de Dirceu e a imprevisibilidade da operação Lava-jato, a presidente Dilma frisou em seu discurso a necessidade de preservação das instituições. Mais uma vez, disse não temer que as denúncias de corrupção abalem seu mandato.
— Na crise política, as instituições devem ser preservadas. Devemos fazer nossa travessia sem medo. Eu não tenho medo. Eu aguento pressão , eu percebo o que está acontecendo, ouço para mudar e melhorar — discursou a presidente no encerramento do churrasco.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, foi um dos primeiros a sair do jantar. Segundo os presentes, nas mesas, o assunto era um só: a prisão de José Dirceu e onde a Operação Lava-jato vai parar. Alguns, entretanto, fizeram piada.
— O consenso nas rodinhas era de que, já que vai prender todo mundo, que prenda logo de uma vez só e acaba com isso. A piada lá era: não é lava-jato, é lava lento e vaza rápido as delações. A operação é lenta, mas os vazamentos vêm a jato. Havia uma preocupação geral de que a operação tem um único objetivo, que é prender o ex-presidente Lula — contou um dos senadores presentes.
Dilma circulou pelas mesas e tentou centrar as conversas na necessidade da base brigar pela manutenção do ajuste fiscal nas votações da chamada pauta bomba na volta do recesso. No discurso disse que nenhum país no mundo sobrevive sem equilíbrio fiscal, que a prioridade é construir a estabilidade fiscal e financeira, sem a indexação de aumentos vinculados a inflação.
— Não podemos indexar a Economia. As condições de ontem não se repetirão hoje. Não teremos outra oportunidade com as commodities. Mas podemos aproveitar a crise para fazer mudanças — argumentou a presidente, na presença do ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
A presidente Dilma também pediu que os aliados enfrentem as pautas difíceis que serão colocadas na volta do recesso, com “altivez”.
— Da estabilidade fiscal eu não arredo o pé. Não quero que votem como carneirinhos mas, como uma base corajosa em nome e para o Brasil — apelou Dilma.
Dilma fez um discurso otimista. Prometeu buscar o diálogo com todas as forças políticas e com o setor produtivo. E para animar a base, fez promessas grandiosas.
— A presidente disse que dentro de dois meses vai entregar os primeiros 39 quilômetros da transposição do Rio São Francisco. E até 2016 vai entregar a obra toda, concluída. Isso é uma notícia maravilhosa para o meu Nordeste. Também anunciou que logo estará fazendo as concessões na área de infraestrutura para dividir a crise com o setor privado — comemorou o líder do PP, senador Benedito de Lira (AL).