Espaço Público: Cardozo diz que Delcídio quer se vingar do governo

Agência Brasil - 16 de março de 2016


O ministro da Advocacia-geral da União (AGU), José Eduardo Cardozo, reafirmou hoje (15) que as acusações a integrantes do governo e à própria presidenta Dilma Rousseff feitas pelo senador Delcídio do Amaral (MS), em delação premiada firmada com o Ministério Público Federal, são “inconsistentes” e fruto de vingança. Delcídio, que ainda pertence ao PT, pediu sua desfiliação hoje (15) ao diretório regional do partido. O pedido ainda precisa da homologação do Tribunal Regional Eleitoral.


Em entrevista ao programa Espaço Público, da TV Brasil, Cardozo disse ainda não haver elementos para o impeachment de Dilma, afirmou acreditar na inocência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acusado de lavagem de dinheiro e falsidade ideológica pelo Ministério Público de São Paulo, e admitiu estar decepcionado com atitudes de colegas de partido.


Para o ministro, a deleção premiada de Delcídio atinge não somente o governo, mas também a oposição e empresários. “Da parte do governo, a verdade é que sabíamos dos fatos. E são fatos muito pouco consistentes, que mostram, na verdade, um desejo claro e evidente do senador Delcídio Amaral de se vingar do governo porque o governo não se movia para tirá-lo da cadeia. As retaliações vieram e com absoluta inconsistência”, disse o ministro.


Como exemplo de inconsistência, o ex-ministro da Justiça citou trecho da delação em que Delcídio se refere à compra da refinaria de Pasadena, no Texas (Estados Unidos, pela Petrobras. “Ele diz que a Dilma sabia de tudo de Pasadena. E ele diz que ela sabia porque ela é muito detalhista e centralizadora. Ora, francamente, isso é uma dedução. As atas demonstram que ninguém do Conselho de Administração da Petrobras sabia de todas as informações. Chega até ser patético”, avaliou Cardozo.


Impeachment


Para Cardozo, o pedido de impeachment da presidenta Dilma, em tramitação na Câmara dos Deputados, não apresenta fatos que justifiquem o impedimento. “Não há fatos para o impeachment. É legítimo que as pessoas saiam às ruas, que se manifestam, estamos em uma democracia. Mas, no presidencialismo, não basta ter uma situação episódica de impopularidade para se afastar um governo. Precisa-se de um fato imputável à presidenta e não há”, argumentou o ministro.


“Acredito no Legislativo e que há pessoas conscientes que respeitam a democracia e não vão querer passar para a história como golpistas”, acrescentou Cardozo.


Lula


Perguntado sobre a situação de Lula, Cardozo disse confiar que o ex-presidente dará todas as explicações necessárias e demonstrar a inocência dele. “Eu conheço o presidente Lula desde que me conheço por gente e tenho uma confiança profunda na sua seriedade e na sua retidão. Tenho absoluta certeza que ele demonstrará que muitas acusações feitas contra ele não procedem. Pessoalmente, confio que ele dará as explicações corretas e devidas para que se mostre que não há nada que possa imputá-lo”, argumentou Cardozo.


Sobre a possibilidade de Lula assumir um ministério, Cardozo avaliou que Lula poderá “contribuir muito” com o governo.


PT


Sobre o PT, José Eduardo Cardozo disse sentir-se decepcionado não com a legenda, mas com colegas de partido. Para o ministro, o PT deve aproveitar esse momento de crise para se reinventar. “[Decepcionado] com o PT não, com algumas pessoas sim. É preciso separar a instituição e as pessoas. A generalização que se faz é ruim. Algumas pessoas me decepcionaram, mas o partido não. É aquele que eu conheci, que eu defendo, que eu acredito”, disse Cardozo.


“Nas crises que nascem energias necessárias para a correção de situações. Tenho absoluta certeza que o PT tem energia suficiente para aprender com os erros de alguns filiados e dirigentes e possa partir para um novo patamar daquilo que são suas bandeiras históricas”.


PMDB


Sobre a relação do governo com o PMDB, do vice-presidente Michel Temer, Cardozo acredita que a legenda não vá abandonar o governo. “Não acredito [na saída do PMDB do governo]. O PMDB e o PT têm uma parceria histórica. O vice presidente pertence ao PMDB, temos vários ministros, ou seja, o PMDB é governo. Temos responsabilidade pelo que esse governo foi, é e será. Não acredito que o PMDB terá uma postura que não corresponda com sua historia democrática”.


O programa Espaço Público vai ao ar hoje (15), às 23h, na TV Brasil.