O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Edinho Silva, criticou ontem (07) os vazamentos que considerou seletivos de delações premiadas em curso no âmbito da Operação Lava Jato. Ele disse que os parlamentares terão “bom senso” para a forma “estranha” como têm ocorrido os vazamentos e que agiu de forma “correta, legal e ética” durante as campanhas presidenciais do PT.
Edinho, que foi coordenador financeiro da campanha da presidenta Dilma Rousseff em 2014, fez um apelo para que se ponha fim a vazamentos, que, segundo ele, se transformam em instrumentos de luta político-partidária, em especial no momento em que se discute o processo de impeachment de Dilma na Câmara dos Deputados.
Ele concedeu entrevista a jornalistas nesta quinta-feira para comentar a reportagem publicada na edição de hoje pelo jornal Folha de S.Paulo, segundo a qual a empreiteira Andrade Gutierrez fez doações legais às campanhas de Dilma em 2010 e 2014 utilizando “propina oriunda de obras superfaturadas”.
A informação estaria na delação premiada do ex-presidente da empresa, Otávio Marques de Azevedo. Segundo a reportagem, a delação aguarda a homologação por parte do ministro Zavascki. A Procuradoria-Geral da República (PGR) não se pronunciou a respeito do tema.
De acordo com o jornal, o ex-presidente da empreiteira entregou uma planilha à PGR com a informação sobre as doações. A planilha foi detalhada tanto por Marques como pelo ex-executivo da construtora, Flávio Barra, em depoimentos colhidos em fevereiro, durante a negociação da delação com a procuradoria. Azevedo disse aos procuradores que a propina tinha origem em contratos da empreiteira para a execução das obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), a Usina Angra 3 e a hidrelétrica de Belo Monte. Ainda segundo a reportagem, os delatores afirmaram que até 2008 os valores doados de maneira legal tanto para o PT como para outros partidos eram equivalentes.
Segundo o ministro Edinho Silva, se o que foi divulgado pela imprensa realmente consta na delação dos executivos, esse conteúdo “não tem lastro na verdade”. Ele disse que a Andrade Gutierrez fez doações para outros candidatos. “Eu jamais participei de qualquer diálogo com o presidente da referida empresa onde tivesse sido mencionada a palavra propina, onde tivessem sido mencionadas relações com contratos ou obras do governo federal. O meu diálogo com o presidente da mencionada empresa foi idêntico ao diálogo que eu tive com dezenas de empresários brasileiros no processo de arrecadação”, afirmou.
Como já dissera outras vezes, Edinho Silva declarou que a campanha de Dilma em 2014 arrecadou recursos de forma lícita e transparente: “O que nos causa indignação é que colocam sob suspeita as doações da campanha da presidenta, sendo que foi a mesma empresa, o mesmo caixa e a mesma forma de doação, declarada ao TSE [Tribunal Superior Eleitoral]. Importante relembrar que as doações foram auditadas e as contas da presidenta aprovadas de forma unânime pelos ministros do TSE”.
Quanto à informação de que, mesmo tendo sido feita doação legal, o dinheiro provinha de propinas e superfaturamentos em obras, o ex-tesoureiro da campanha disse que a legislação brasileira é clara quanto ao assunto, no que diz respeito a doações contabilizadas e feitas de acordo com as regras. “Eu gostaria que alguém tivesse a capacidade de analisar que o dinheiro que está na conta-corrente de uma empresa, se alguém identifica que o valor X é ilegal, o valor X é legal. E que eu vou repassar para a campanha A o valor ilegal, para a B, o legal. É evidente que isso é uma peça de ficção”, afirmou Edinho.
O ministro iniciou a entrevista fazendo um apelo aos membros do Ministério Público e da Justiça para que “em algum momento” se ponha fim esse tipo de vazamentos. Ele pediu que os representantes do Judiciário e do MP zelem pelas instituições brasileiras e afirmou que o instrumento da delação premiada pressupõe sigilo.
Apesar da preocupação com o que chamou de luta político-partidária, Edinho disse não acreditar que haja impacto no processo de impeachment porque os deputados e senadores sabem “decifrar o que é uma ilegalidade e o que é uma legalidade. “Os parlamentares certamente devem estar desconfiados de vazamento seletivo as vésperas de decisões importantes da Câmara, que dizem respeito ao futuro da democracia brasileira. Então, eu acredito que o bom senso deve prevalecer entre os parlamentares ao tomarem conhecimento desses fatos. Tenho certeza que eles vão se posicionar com coerência diante desse fato que, repito, nos estranha muito que uma delação seletiva seja vazada num momento como este”, afirmou.
Sobre a possibilidade de deixar o cargo para que as denúncias não atraiam uma imagem negativa para o Palácio do Planalto o ministro declarou: “Eu tenho pleno conhecimento da lisura dos meus atos. Não tem nenhum problema que todos meus atos sejam investigados. Nada vão encontrar, porque agi de forma correta, legal e ética. Tenho toda confiança da presidenta Dilma, porque ela me conhece e conhece a minha conduta e a forma como conduzi a arrecadação e as despesas da sua campanha”, declarou.