Dilma recua e não fala em golpe durante discurso na ONU

G1 - 22 de abril de 2016


A presidente Dilma Rousseff recuou e não se disse vítima de um "golpe parlamentar" no Brasil ao discursar nesta sexta-feira (22) perante chefes de Estado mundiais na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. Praticamente todo o seu discurso foi sobre clima. Apenas nas cinco frases finais, Dilma disse que o Brasil vive atualmente um "grave momento", com uma sociedade que construiu uma "pujante democracia" e que o povo saberá "impedir quaisquer retrocessos".

Alvo de um processo de impechment no Congresso Nacional, a presidente chegou a cogitar nos últimos dias, segundo assessores do Palácio do Planalto, denunciar durante seu discurso de cinco minutos na ONU que é vítima de um "golpe parlamentar" no Brasil.


Diante dessa possibilidade, os ministros do Supremo Tribunal Federal Celso de Melo, Dias Toffoli e Gilmar Mendes refutaram a tese da presidente, atestando que há base legal para o processo de afastamento que tramita no Legislativo. "Há um equívoco quando [Dilma] afirma que há um golpe parlamentar, ao contrário. O Supremo Tribunal Federal, ao julgar uma Arguição de Descumprimento de preceito Fundamental, deixou claro que o procedimento destinado à abertura do processo de impeachment observa os alinhamentos ditados pela Constituição da República", disse Celso de Mello.

A presidente gastou quase toda a sua fala de 8 minutos e 42 segundos com considerações sobre o acordo climático e apenas mencionou a situação política em sua conclusão: "Não posso terminar minhas palavras sem mencionar o grave momento que vive o Brasil. A despeito disso, quero dizer que o Brasil é um grande país, com uma sociedade que soube vencer o autoritarismo e construir uma pujante democracia. Nosso povo é trabalhador e com grande apreço pela liberdade. Saberá, não tenho dúvidas, impedir quaisquer retrocessos. Sou grata a todos os líderes que expressaram a mim sua solidariedade", afirmou a presidente em discurso na solenidade de assinatura do acordo do clima de Paris.

Nas entrevistas em que dará nesta sexta, é possível que Dilma fale sobre a situação política brasileira, como fez em entrevistas desde segunda-feira, um dia depois de a Câmara dos Deputados autorizar, com 367 votos (25 a mais que o necessário), o prosseguimento do processo de impeachment contra a presidente.

Dilma desembarcou em Nova York na noite desta quinta (21). Ao chegar na residência oficial do embaixador do Brasil na ONU, Antônio Patriota, manifestantes contrários ao processo de impeachment a aguardavam para demonstrar solidariedade e apoio à petista. Nesta sexta (22) houve manifestações contra e a favor de Dilma nas proximidades da ONU antes de seu discurso.

Segundo a assessoria da Presidência, a presidente deve retornar ao Brasil neste sábado (23). Antes de voltar ao país, ela deve conceder entrevistas para a imprensa.

Nesta sexta, o jornal norte-americano “New York Times” publicou uma entrevista com o vice-presidente da República Michel Temer no qual ele disse estar “muito preocupado” com a tese de Dilma de dizer que o processo de impeachment é um golpe.

Segundo o colunista do G1 e da GloboNews Gerson Camarotti, embora a ideia inicial de Dilma fosse denunciar o “golpe” na ONU, nesta quinta (21) assessores próximos da presidente ponderaram que não seria adequado ela fazer um discurso de conteúdo político para uma plateia técnica, formada por líderes mundiais que negociaram o acordo de Paris sobre mudanças climáticas.

Acordo do clima
Nesta sexta-feira, líderes mundiais se reuniram na sede da ONU para assinar o acordo sobre mudanças climáticas elaborados no ano passado, em Paris, durante a COP 21. Para que as metas estipuladas se tornem lei, o governo de cada país deverá articular a aprovação das regras junto aos seus parlamentos.

O acordo envolve, por exemplo, a redução da emissão de gases do efeito estufa, a adoção de matrizes energéticas mais limpas e o reflorestamento de áreas verdes desmatadas.


Em seu discurso para a comunidade internacional, que durou cerca de dez minutos, Dilma Roussef afirmou que as metas do Brasil até 2030 são: reduzir em 43% a emissão de gases do efeito estufa; zerar o desmatamento na Amazônia; reflorestar 12 milhões de hectares de florestas e 15 milhões de hectares de pastagens degradadas; integrar 5 milhões de hectares na relação lavoura-pecuária-florestas; e adotar 45% de energias renováveis na matriz energética.

"Países em desenvolvimento, como o Brasil, têm apresentado resultados expressivos na redução das emissões [de gases] e se comprometido com metas ambiciosas. O desafio é enfrentar as mudanças climáticas. [...] E isso exige, de forma continuada, a mobilização e a implementação dos meios adequados para que os países em desenvolvimento tenham o suporte necessário e contribuam para os esforços globais", declarou a presidente na solenidade da ONU.