País vendeu US$ 37 bi das reservas no ano passado

Valor Econômico - 10 de janeiro de 2020


O Banco Central vendeu US$ 36,9 bilhões das reservas internacionais no ano passado. Essas vendas se deram principalmente em razão de intervenções cambiais realizadas pelo BC para conter a alta do dólar em um ano em que o país teve a maior saída de divisas da história recente, US$ 44,8 bilhões. Com isso, as reservas cambiais, que haviam atingido o pico de US$ 390,5 bilhões em junho, caíram para US$ 356,9 bilhões no fim do ano.

A reservas internacionais são ativos que o país possui em moedas estrangeiras e representam um seguro contra crises cambiais. Com a venda de reservas, houve uma redução desse seguro. O lado positivo dessa operação, porém, foi a queda de cerca de R$ 140 bilhões na dívida bruta do país, ou dois pontos percentuais do PIB - em novembro, a dívida estava em 77,7% do PIB.

A atuação da autoridade monetária está alinhada com diretriz do Ministério da Economia, de aproveitar desvalorizações cambiais para vender dólares, reduzir as reservas, abater a dívida pública e baixar seu custo.

A diminuição do colchão de segurança cambial não é vista com preocupação por economistas. O nível atual das reservas permanece de acordo com métricas do FMI e parece pouco provável que o país tenha de recorrer neste ano a vendas de dólares no mesmo volume de 2019. O diretor no ASA Bank e ex-secretário do Tesouro, Carlos Kawall, considera que o nível ótimo das reservas estaria entre US$ 250 bilhões e R$ 300 bilhões, havendo, portanto, bastante espaço para eventuais intervenções do BC.

Uma fonte da área econômica observa que a redução das reservas foi uma estratégia adequada, bem ao estilo do gerenciamento de portfólio de ativos. Ao vender a moeda americana com cotação acima de R$ 4, explica, foi como se o governo "realizasse lucros" com as reservas e ainda produzisse uma melhor equação entre proteção externa e desenho fiscal. Tanto que isso foi feito e o risco-país manteve-se em queda. Página C1