Especialistas testam medicamentos contra a Covid-19, mas esperam vacina só daqui a dois anos

Agência Câmara de Notícias - 22/04/2020


Especialistas ouvidos em audiência pública nesta quarta-feira (22) da comissão externa da Câmara criada para acompanhar ações de combate ao coronavírus disseram que a corrida dos cientistas brasileiros é para descobrir um conjunto de tratamentos eficazes contra a Covid-19. Isso porque a vacina, conforme informou a pneumologista Margareth Dalcolmo, deve demorar pelo menos dois anos.


Os especialistas afirmaram que vários medicamentos tradicionais vêm sendo testados para diferentes fases da doença. São projetos de pesquisa nacionais e internacionais que até agora, segundo eles, não apresentaram conclusões significativas.


Cloroquina
Estevão Nunes, da Fiocruz, explicou que a cloroquina, que vem sendo bastante discutida entre leigos, é apenas um entre vários medicamentos testados. Segundo Nunes, a cloroquina teve eficácia, por exemplo, para tratar doenças como a influenza em laboratório. Mas, quando foi testada em situações reais, praticamente não teve efeito.


O presidente do Conselho Federal de Medicina, Mauro Luiz Ribeiro, também disse que a eficácia da cloroquina contra a Covid-19 ainda não tem comprovação. Mas ele informou que em breve o conselho vai divulgar uma nota oficial sobre o assunto.


Ribeiro afirmou que a pandemia trata-se da "maior ameaça da história da nossa existência" e pediu união para tratar do problema. "Eu não sou catastrofista, quem me conhece sabe. Algumas dezenas de brasileiros vão morrer como já estão morrendo. E não temos uma droga para tratar essa doença. Neste momento, não. E temos uma situação totalmente politizada. Disputas pela paternidade da hidroxicloroquina, que é uma droga que não se sabe se tem efeito ou não; uma disputa política sobre quando sair do afastamento social. E isso está fazendo muito mal para a sociedade brasileira."


O deputado Hiran Gonçalves (PP-RR), que é médico, disse que a decisão sobre o uso da cloroquina deveria ser dos médicos de maneira individual. Ele informou conhecer médicos que usam cloroquina de maneira profilática, porque acreditam que se previnem da doença. "E eu levanto a questão: se não seria pertinente que a gente estabelecesse uma norma técnica para o uso dessas terapêuticas que protegessem o paciente e os profissionais que utilizam no sentido de salvar vidas ou de amenizar o sofrimento das pessoas. Porque eu não acho justo que nas camadas diferenciadas todo mundo usem e o povo não tenha acesso."


Secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Denizar Vianna, lembrou que o protocolo do governo para a cloroquina, por enquanto, é apenas para uso hospitalar para pacientes graves. Até porque o medicamento pode causar parada cardíaca, como aconteceu com um médico na Bahia.


A pneumologista Margareth Dalcolmo disse que a sociedade precisa dar tempo aos pesquisadores, que estão fazendo o possível. "Nós precisamos é despolitizar a Covid-19. Despolitizando, nós talvez consigamos um caminho de controlar, de mitigar um pouco essa tragédia que se abateu sobre o Brasil."


O infectologista Esper Kallas, que trabalha no Hospital das Clínicas em São Paulo, disse que a instituição tem 28 projetos em andamento. Para os tratamentos, são testados medicamentos como antivirais, medicamentos que previnem a formação de coágulos, medicamentos que estimulam a ação dos linfócitos e anti-inflamatórios. Kallas afirmou que os médicos estão testando medicamentos que são usados para outras situações como um que é usado para transplantes de medula óssea.


O Hospital das Clínicas também participa de um estudo maior com 120 pacientes que estão recebendo plasma de pessoas que já tiveram a doença. Segundo o infectologista, cada doador pode beneficiar de três a quatro pessoas e o plasma deve ser transferido em até 12 dias após o início dos sintomas.


Sobre a vacina, Kallas disse que o Brasil está tentando se associar a países que estão mais avançados na pesquisa como Estados Unidos e China.


Já o imunologista Luís Vicente Rizzo, que trabalha no Hospital Albert Einstein em São Paulo, lembrou que também é necessária uma preocupação com a saúde mental das pessoas.


"Tanto dos profissionais de saúde que estão enfrentando pela primeira vez na nossa geração uma pandemia dessa magnitude, com toda a gravidade que ela apresenta, mas também dos pacientes que forem internados com a doença, com risco razoável de morte, e que ficam isolados de seus familiares".


Manaus
O deputado Marcelo Ramos (PL-AM) disse na reunião que a situação de Manaus é trágica por falta de leitos, mas afirmou que o interior nem tem leitos. Ele fez um apelo para que as emendas de parlamentares ao Orçamento de 2020, já destinadas ao setor de saúde, sejam liberadas pelo governo.


A comissão debate a situação do Amazonas nesta quinta-feira.


A comissão aprovou convite ao ministro da Saúde, Nelson Teich, para que participe de reunião com o colegiado nos próximos dias.


Fonte: Agência Câmara de Notícias