Violência Urbana

Violência Urbana

Distorções socioeconômicas são algumas das faces dessa zona de guerra
Todos os dias, somos confrontados com todo tipo de violência. Buscar as causas ou justificativas para esse comportamento e seus altos índices é uma tarefa complicada. Das questões econômicas, políticas, educacionais, do consumo abusivo de drogas, da miséria, dos problemas familiares, dos valores sociais e morais de uma sociedade, até à desnutrição, revelam que a violência urbana pode ser observada de vários aspectos.

No Brasil, nos últimos anos, há um interesse pela questão social, mas isso ainda é muito pouco. Para o deputado federal Fernando Melo (PT/AC), a questão da violência tem muito a ver com a educação. Ele acredita que a desinformação, a ignorância e a dependência química, são as grandes causas da violência. "A educação, no meu entendimento, é o principal meio para, a longo prazo, alcançar um nível de criminalidade aceitável, vamos dizer assim. Por outro lado, também há a violência no trânsito, um tema que gosto de abordar", confessou.

O parlamentar salienta que a criminalidade tem várias vertentes. "Em um primeiro momento, temos a possibilidade de atuar com a repressão, um dos instrumentos conhecidos, e com a legislação, a aplicação da lei. Há repressão por meio das polícias, mas, hoje, no Brasil, temos uma situação muito complexa. Os policiais estão desvalorizados. Veja o exemplo dos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, considerados violentos, onde o policial militar, ao usar a farda, corre risco de morte. É muito diferente do meu estado (Acre). Lá, o policial não tem problema em usar a farda", relata.

Fernando Melo evidencia a capacidade das instituições policiais, que possuem um quadro de pessoal competente e especializado, mas que não têm recebido atenção especial do Estado. "O Governo está trabalhando para lançar no Programa de Aceleração do Crescimento da Segurança as medidas necessárias para amenizar essas distorções. O Senado já aprovou o pacote de medidas da Segurança. Aqui, na Casa Legislativa, nós também estamos fazendo um esforço muito grande para aperfeiçoar a legislação penal. Pela primeira vez, vejo que a questão da segurança na Câmara está sendo exposta com tranquilidade e sem o apelo e a pressão provocada por um crime ou caso isolado", adiantou.

Liberdade
Para o deputado federal Fernando Melo, o cidadão brasileiro precisa ter medo de perder a liberdade. "Quem está nos presídios não tem mais nada a perder. Sou favorável a criar leis penais alternativas ao sistema prisional para tirar a liberdade. Acho que essa medida terá muito mais efeito", acredita.

Para o deputado, a classe média tem uma grande parcela de contribuição na crise da violência. "A classe média é a que mais reclama da violência, mas ela contribui para isso. Estou falando dos jovens da classe média usuários de drogas, que fomentam o tráfico e a criminalidade. O tráfico é um comércio, se não houver comprador, o negócio quebra. Precisamos de um movimento conscientizador da sociedade para essa situação", enfatiza.

Impunidade
Somente com a mudança na legislação penal será possível amenizar a sensação de impunidade, a demora da resposta do Estado e a ineficácia dos sistemas policial e judiciário no País. A punição exemplar dos que cometem crimes diminuirá a criminalidade, desde que adotada com outras medidas necessárias, destaca o parlamentar. "Temos 300 mil presos e mais 300 mil mandados de prisão para serem cumpridos. Não temos mais onde colocar tanta gente", destaca. "Tramita na Câmara um projeto de lei, desde 2001, propondo a redução na quantidade de recursos do processo penal. Esse será um avanço significativo, porque a pessoa que cometeu um crime terá a certeza de que não poderá procrastinar uma sentença, porque a condenação virá. Isso vai fazer tremer, por exemplo, os criminosos de colarinho branco. Quem tem dinheiro também irá para a cadeia. No Brasil, há a crença de que só os pobres vão para a cadeia, cabe ao Congresso Nacional dar essa resposta para à sociedade", ressalta.

Membro da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, o deputado federal Fernando Melo trabalha para que as matérias de segurança não fiquem paradas na Casa. "Precisamos acelerar essa discussão, colocá-la em julgamento, para que não haja uma nova pressão da sociedade e a Comissão possa votar de forma acelerada projetos que precisam ser amplamente debatidos".

Falta respeito às leis de trânsito
A iniciativa da subcomissão de Segurança para acompanhar a violência no Trânsito e a aplicação do Código de Trânsito Brasileiro, que está completando 10 anos, é de autoria do deputado Fernando Melo. Segundo o deputado, a subcomissão foi aprovada e tem por objetivo criar um movimento junto à imprensa, à sociedade, às instituições e à classe média, alertando para a guerra do trânsito. "Nós vemos uma verdadeira guerra não declarada no trânsito que está matando e aleijando. Essa já é a quarta principal causa de morte de homens no Brasil. Em 2005, foram 35 mil mortes, um número quase igual ao de homicídios", alerta. "A sociedade ainda não deu a devida atenção à violência do trânsito."

Pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), entre os anos 2001 e 2003, quantificou os custos dos acidentes de trânsito em áreas urbanas e concluiu que as perdas anuais atingem a ordem de R$ 5,3 bilhões de reais. Em 2006, o IPEA demonstrou que os impactos sociais e econômicos dos acidentes de trânsito nas rodovias brasileiras são bastante significativos, estimados em R$ 24,6 bilhões, principalmente relacionados à perda de produção relacionada às mortes das pessoas ou à interrupção das atividades das vítimas. Também integraram o cálculo os custos com os cuidados em saúde e aqueles associados aos veículos, entre diversos outros. Para Fernando Melo o principal componente desse custo vai para a recuperação das vítimas do trânsito. "Se não tivéssemos essa guerra os recursos poderiam ser aplicados na área da educação", sugere. $

* Deputado Federal Fernando Melo (PT/AC). É advogado, economista e bancário. Foi Secretário de Segurança Pública, Deputado Estadual e Diretor do Detran, no Acre. No primeiro mandato, na Câmara dos Deputados terá dois grandes desafios: ver os projetos de segurança pública analisados e votados de forma democrática e o mais rápido possível, e lutar pela Paz no Trânsito.

Guerra no Trânsito
Segundo dados do Ministério da Saúde, os acidentes de trânsito aumentaram 9% em três anos no Brasil. Em 2002, 32.753 pessoas morreram no trânsito, enquanto que, em 2005, os registros de óbitos chegaram a 35.753. Isso representa 3 mil mortes evitáveis no período avaliado. Os dados também revelam que houve uma reversão da tendência de queda notada a partir de 1998 com o impacto do Código de Trânsito Brasileiro. As faixas etárias mais afetadas foram as dos 20 aos 39 anos (45%) e dos 40 aos 59 anos (26%), totalizando 25.375 óbitos entre os 35.753 registrados em 2005. Do total de mortes nessas faixas, 85% (cerca de 21.529 óbitos) ocorreram entre homens. Entre os adolescentes, o acidente de trânsito já é a segunda principal causa de morte, a primeira é o homicídio. De acordo com nova avaliação, 3.976 pessoas entre 10 e 19 anos perderam a vida no trânsito em 2005. As causas das preocupantes estatísticas estão relacionadas ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas, alta velocidade, não uso de capacetes ou de cinto de segurança e problemas na infra-estrutura de rodovias e vias públicas.