Rodovia Interoceânica
A rota brasileira para o Oceano Pacífico é a mais nova fronteira para conectar o País ao comércio mundial
A Rodovia Interoceânica ligará o Brasil aos portos peruanos de Ilo, Maratani e San Juan, no Oceano Pacífico. Junto com a "Estrada do Pacífico", além das obras da "Carretera" no território peruano, o projeto realiza, pela primeira vez na história da América Latina, o sonho da unificação do continente. Um sonho também almejado pelo engenheiro e escritor Euclides da Cunha (1866 -1909), que possuía consideráveis trabalhos relativos à Amazônia. O autor apontava, desde o início do século passado, para a importância da integração sul-americana. Para Euclides da Cunha, a implementação de políticas públicas de infra-estrutura poderia tornar factível ao Brasil se deparar com o Pacífico e sugeriu, ser crucial ao País se integrar aos seus vizinhos da América do Sul, dedicando especial atenção ao Peru, tendo em vista uma rota brasileira para o oceano Pacífico, não importando o trajeto. Euclides intuía que esse esforço seria fundamental para o desenvolvimento e suas reflexões modernas são praticamente visionárias, se levarmos em conta na atualidade o fenômeno mundial chinês, nas relações comerciais com o Brasil e o mundo.
Há dois anos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou, na cidade peruana de Puerto Maldonado, do lançamento da pedra fundamental da rodovia Interoceânica. Na oportunidade, o presidente Lula ressaltou que a obra representa a concretização do sonho de integração e um símbolo de que os povos latinos podem superar as limitações que travavam o desenvolvimento do continente. A construção da Rodovia, disse, é o início de um novo capítulo na história da região."Iniciamos a integração física de nossos países e estamos concretizando o sonho de muitos que morreram lutando para que a nossa América Latina pudesse sofrer um processo auspicioso de integração", enfatizou o presidente Lula, assim publicado no Jornal do Comércio, 11/9/2005.
O Brasil sempre teve em mente uma saída para o Pacífico, mas nos últimos anos esse engajamento se tornou efetivo. Em janeiro de 2006, foi inaugurada a ponte binacional, que liga os municípios de Assis Brasil, no Acre, a Iñapari, no Peru. A ponte, construída sobre o Rio Acre, possui 240 metros de extensão, pista duplicada e passarelas para pedestres nas duas laterais. Essa obra representou um investimento aproximado de R$ 25 milhões, com recursos do Governo Federal e do Governo do Estado do Acre. Pela BR 317, a chamada Rodovia do Pacífico, totalmente asfaltada no Acre, o Brasil se une à fronteira com o Peru.
Potencial Turístico
Afora o impacto do desenvolvimento econômico e do estímulo ao intercâmbio comercial que a Rodovia Interoceânica provocará nos mercados fronteiriços, o turismo certamente terá destaque especial. Da planície Amazônica às montanhas de floresta, da Cordilheira dos Andes às fortalezas sagradas do Império Inca e as ruínas de Machu Picchu, eleita uma das sete maravilhas do mundo moderno, o turista de qualquer parte do mundo poderá se aventurar de carro.
Partindo do Acre, em Assis Brasil, em poucos quilometros chega-se até a vizinha cidade peruana de Iñapari. Dali, percorrem-se 230 quilômetros de estrada de cascalho até Puerto Maldonado, cidade de porte médio considerada a capital dos Andes tropicais peruanos.
De Puerto Maldonado, a Rodovia rumo ao Pacífico prossegue para Cuzco, capital do vale sagrado dos índios Incas, visitada por milhares de turistas do mundo inteiro. Entre Puerto Maldonado e Cuzco há 510 quilômetros de subida pela selva e pelas montanhas das Cordilheiras dos Andes. Alí, encontra-se o único trecho crítico da estrada e que já está sendo trabalhado pelo governo peruano. Há cerca de 300 quilômetros, antes da subida das Cordilheiras, que apresentam pequenos defeitos, principalmente na passagem por pequenas pontes e cancelas montadas sobre os pequenos riachos e igarapés que descem dos Andes.
De Cuzco, a viagem prossegue tranqüila para Arequipa, a mais antiga das cidades peruanas. Nesse trecho, de 520 quilômetros, a estrada de cascalho bem compactado apresenta bom tráfego durante o ano todo. De Arequipa, a viagem do Acre ao Pacífico pode ser concluída pelos 310 quilômetros de boa rodovia até à cidade portuária de Ilo, no Sul do Peru, próximo à fronteira com o Chile. O porto de Ilo é o mais próximo do Acre, a 1.900 quilômetros de distância.
A pavimentação da Rodovia Interoceânica vai custar mais de US$ 700 milhões de dólares, oriundos dos governos brasileiro e peruano e da Confederação Andina do Fomento (CAF). As obras do primeiro trecho, de 700 km, entre Assis Brasil e Cuzco, onde o tráfego é considerado de difícil acesso, estão sendo executadas pela construtora brasileira Odebrecht. O trecho até Urcos (45 km de Cuzco) está em pavimentação. A conclusão da obra é prevista para julho de 2010.
O governo peruano também pretende concluir uma rodovia alternativa que, a partir de Puerto Maldonado, poderá encurtar em cerca de 400 quilômetros a ligação rodoviária entre Rio Branco e o porto de Ilo. Trata-se de uma estrada, cujo traçado já existe, que ligará Puerto Maldonado a Puno, próximo à fronteira peruana com a Bolívia. Com essa rodovia, a ligação rodoviária entre a capital do Acre e o Pacífico peruano será reduzida, para apenas 1.500 quilômetros, passando por uma região menos montanhosa do que a da subida das Cordilheiras.
Sem a obrigatoriedade do passaporte para os brasileiros viajarem ao Peru, as autoridades judiciárias e policiais dos dois países já iniciaram as discussões para definir as ações conjuntas com o objetivo de conter as faces negativas da integração nas fronteiras, seja no combate ao crime organizado, seja no aumento da criminalidade.
Desenvolvimento
O Acre é um dos pontos estratégicos para a consolidação das interconexões econômica, comercial, social e cultural entre Brasil, Bolívia e Peru. O Estado está fazendo uma verdadeira revolução em matéria de desenvolvimento e já passa a ocupar espaço de destaque nas estratégias dos poderosos grupos financeiros interessados em grandes investimentos.
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