Momento de definição contra a inflação

O Globo – 22/06/2011


A inflação voltou a ser motivo de preocupação no Brasil desde o fim do ano passado, em parte devido à alta de preços no mercado internacional, mas principalmente em decorrência de fatores domésticos. O governo contribuiu para essa aceleração ao ter optado por uma política fiscal expansionista quando já havia claras evidências de pressões de demandas em 2010. Motivado pelo calendário eleitoral, o governo Lula custou a pôr um freio nos gastos públicos - o que só veio a ocorrer, de forma ainda modesta, já na administração Dilma Rousseff.


Em face dessa aceleração, a tendência é que a inflação em 2011 fique próxima do teto (6,5%) da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional há dois anos. Ainda que a política monetária tenha se tornado restritiva e a fiscal já seja mais neutra que expansionista, o país enfrentará em 2012 uma herança inflacionária que dificultará o recuo dos índices de preços para o centro da meta (4,5%). Não esquecer, ainda, o impacto do previsto aumento na faixa dos 14% do salário mínimo no ano que vem.


Para desarmar esse ambiente favorável à inflação, a política econômica teria que anular pressões de demanda e favorecer a ampliação da oferta de bens e serviços. Para tal, é essencial que haja aumento da poupança pública, o que só pode ser obtido por contenção de gastos e aumento de receitas. O governo teria de abrir mão, ou diminuir o ritmo de execução de alguns de seus programas, o que significaria arcar, no curto prazo, com um risco político que o PT e seus aliados não parecem dispostos a correr.


O resultado é que a política econômica tende a conviver com uma inflação igual ou acima de 4,5%, patamar não recomendável, pois qualquer choque de oferta ou de demanda é suficiente para empurrar os índices para um nível que desorganiza os orçamentos das famílias, corrói rapidamente o poder de compra dos assalariados e desencadeia um processo de reindexação indesejável e de difícil controle.


Assim, mesmo que em 2011 e 2012 sejam necessários esforços vigorosos para pôr a inflação nos eixos, o governo deveria mirar numa meta mais baixa para 2013. Por várias razões: primeiro, está provado na prática que a meta atual (4,5%, com tolerância de dois pontos percentuais para mais ou para menos) não é satisfatória para se neutralizar os mecanismos remanescentes de indicação automática da economia brasileira; segundo, a experiência internacional do regime de metas mostra que não se deve mantê-las por longo período (e o atual patamar permanece inalterado desde o primeiro mandato do governo Lula); terceiro, para o bom funcionamento desse regime é preciso mexer com as expectativas dos agentes econômicos, que, no momento, estão mais voltadas para uma inflação acima do centro da meta, o que obrigará o governo a dar demonstrações firmes de que não pretende ser tolerante em relação a índices de preços mais altos.


O CMN terá de definir até o fim deste mês a meta de inflação de 2013. O governo estará diante de uma oportunidade de dar um passo à frente para resolver um problema crônico da economia brasileira. Ou deixará evidente que não deseja solucioná-lo ainda nesta administração Dilma Rousseff.