O Centro de Manaus é uma área conhecida pelo forte comércio informal. Os produtos falsificados disputam espaço, em plena luz do dia, com centenas de lojas que comercializam objetos originais. E não restam dúvidas: os produtos “piratas” são cada vez mais procurados, inclusive devido ao baixo custo. O portalamazonia.com conversou com autoridades, lojistas, consumidores e ambulantes para entender o que movimenta esse mercado e as dificuldades para combater estas ações ilegais.
Roupas, relógios, óculos, calçados, bolsas, brinquedos, CDs e DVDs. São diversos os produtos comercializados ilegalmente na capital amazonense. Os consumidores, segundo ambulantes, não procuram simplesmente objetos mais baratos: eles querem marcas conhecidas. ”O cliente já chega aqui pedindo por produtos da Nike e Adidas. São os favoritos do povo, e até cobramos mais caros por eles”, conta uma vendedora que não quis ser identificada.
O rendimento dos comércios é alto. De acordo com a ambulante, “vender produto falso é lucrativo mesmo correndo o risco de perder boa parte em apreensões das polícias Civil, Militar e Federal”. Alguns vendedores admitem lucrar de R$300, em dias comuns, a até R$4 mil em datas de festas, como Natal, Dia das Mães, entre outros.
Para driblar as autoridades, os ambulantes confessam que desenvolveram técnicas. “Nós já sabemos escapar de grandes prejuízos. Alguns prédios no Centro servem de depósito e só trazemos uma quantidade certa para as ruas. Se a Polícia vier, leva pouca coisa. Se não vier, podemos pegar mais pra vender ao longo do dia”, explicaram outros.
Segundo a Polícia Civil (PC), a fiscalização ainda é ineficiente pois não há denúncias contra os vendedores. “Só realizamos apreensões quando são registrados boletins de ocorrência contra os comerciantes, e poucas pessoas denunciam. Infelizmente, não podemos focar atenção a este problema todos os dias”, informou a Assessoria da corporação. Ainda de acordo com a PC, a maior parte das denúncias realizadas são feitas por representantes legais das marcas no Estado. “Eles são diretamente prejudicados pela situação e costumam lutar contra este comércio. Na última apreensão, recolhemos cerca de cinco mil peças de roupas falsas”.
Por outro lado, os próprios ambulantes denunciam um suposto esquema de propina para afrouxar as regras contra o comércio ilegal. De acordo com os camelôs, é comum realizar “acordos” com os oficiais. “Todo mundo tem seu preço. Nós já pagamos muita propina pra não perder nossas peças, mas sabemos que nem sempre o que eles levam vai para a Polícia. Tem muito policial que pega aqui pra vender em outra esquina mais tarde”, acusa um vendedor de DVDs piratas do Centro da capital.
Perigos da pirataria
Embora pareça um bom negócio comprar produtos piratas, existem grandes riscos oferecidos pelos objetos falsificados. Um exemplo é a venda de óculos. As barracas, que antes vendiam apenas modelos escuros, hoje comercializam até óculos de grau. “O grande problema é entre a diferença de grau necessário para cada olho. Como as lentes vêm padronizadas, um lado geralmente recebe grau maior ou menor, causando desconforto”, explicou o oftalmologista Carlos Alberto Dias.
Para o médico, o perigo maior continua sendo o uso de óculos de sol piratas. “Se for para usar falso, é melhor dispensar os óculos de sol: a lente escura faz com que a pupila se dilate, deixando-a mais sensível, e como geralmente as lentes não têm proteção aos raios ultravioletas, podem causar graves doenças como a catarata”, contou ao portalamazonia.com.
O grande índice de venda de calçados também causa alerta, principalmente quando se trata de tênis para a prática de esportes. Os produtos falsos, segundo especialistas, não fornecem absorção de impacto e apresentam falhas na distribuição da força realizada em contato com o solo, causando males à coluna do usuário.
Outro produto perigoso é o brinquedo falso. Por não passar por fiscalização, o objeto pode conter peças fáceis de quebrar que podem ser ingeridas pelos pequenos consumidores. É importante verificar sempre se os brinquedos apresentam selo de qualidade do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro).