O Globo - 26 de Novembro de 2012
O corte sem fôlego da taxa básica de juros, desde agosto do ano passado, pode finalmente ser interrompido na próxima quarta-feira, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) vai se reunir para decidir a Taxa Selic, atualmente em 7,25% ao ano, a menor da História. Os investidores que viram seu rendimento encolher drasticamente nos últimos meses, no entanto, não terão muita folga. No próximo dia 30, como ocorre em todo o último dia útil de maio e novembro, o Imposto de Renda (IR) vai cobrar seu adiantamento semestral dos fundos de investimento.
Isso significa que os extratos das aplicações em dezembro vão chegar com um número menor de cotas, que foram recolhidas para o pagamento ao Leão. A perda chega a equivaler a mais de um mês de rentabilidade, dependendo do perfil do fundo.
O "come-cotas", como é chamada essa antecipação do imposto, incide sobre os ganhos dos fundos nos seis meses anteriores. Com base nos dados da Associação Brasileira dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), o administrador de investimentos Fabio Colombo estima que os fundos de renda fixa (que aplicam em títulos prefixados) vão acumular um retorno de 5,25% de junho a novembro deste ano, antes do recolhimento. Nos fundos DI (de títulos pós-fixados), esse retorno deverá ficar em 3,77% no período.
Os fundos de longo prazo (compostos por títulos públicos ou privados com vencimento maior do que um ano) sofrem uma tributação semestral de 15% do Leão. Nesse caso, o "come-cotas" vai reduzir a rentabilidade dos fundos de renda fixa em 0,79% e dos fundos DI em 0,57%, ou seja, o equivalente a quase um mês de rentabilidade.
Como os fundos renderam menos neste ano em comparação a 2011, por causa da queda dos juros básicos, o valor a ser recolhido pelo "come-cotas" também será menor do que no ano passado. Por outro lado, o imposto acaba sendo mais sentido, porque resta cada vez menos ganho real ao aplicador - explica Colombo. - O investidor vai ter que buscar aplicações de mais risco se quiser ver o seu dinheiro render.
Nos fundos de curto prazo (com títulos públicos ou privados com vencimento menor do que um ano), o imposto é ainda mais voraz e morde 20% do rendimento. Nesse caso, a perda de rentabilidade será de 1,05% nos fundos prefixados e 0,75% nos fundos DI.
E, como se não bastasse a queda dos juros e mordida do Leão, os investidores precisam também ficar de olho no comportamento da inflação. De junho a novembro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, deve acumular uma alta de 2,60%, considerando estimativa de economistas levantada pela Anbima para novembro (0,49%). Isso significa que, na prática, o ganho real dos aplicadores de um fundo DI foi de apenas 0,60% no período.
Segundo o professor Gilberto Braga, do Ibmec-Rio, os investidores devem ficar mais atentos às taxas de administração cobradas pelos fundos. Os fundos com cobranças acima de 1% ao ano podem não ser competitivos em relação a outras aplicações.
- É preciso conseguir melhores taxas de administração para ter ganho real nos fundos. O positivo é que existe no mercado uma busca por fidelização dos clientes. Os administradores dos fundos, principalmente os independentes, estão voluntariamente reduzindo taxa de administração - diz o professor de finanças.
O imposto semestral provoca perdas, às vezes, pouco visíveis aos investidores. Como o imposto é adiantado à Receita Federal, ele deixa de ficar no fundo rendendo. Ou seja, se o IR fosse pago no saque, os ganhos seriam maiores.
Segundo Gustavo Pires, gerente comercial da XP Gestão Recursos, existe uma forma de o investidor evitar o "come- cotas": criar um fundo exclusivo, fechado. O problema, ele explica, é que esses fundos têm custos elevados para o investidor. E só compensariam para quem tem cerca de R$ 10 milhões.
- Evidentemente é um valor distante da realidade de muitos investidores no mercado - explica Pires.
Uma outra forma de evitar o recolhimento antecipado de imposto seria simplesmente evitar fundos e investir diretamente nos títulos públicos, pelo site do Tesouro Direto, plataforma de venda dos papéis a pessoas físicas.
- Isso exige dos investidores saberem quais são os melhores títulos, com prazos certos. Os fundos têm a vantagem de ter profissionais tomando essa decisão - defende Pires.