O Brasil está mais preparado para enfrentar choques externos do que há 15 anos, disse ontem (8) o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Em debate com a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, e o governador do Banco da Inglaterra, Mark Carney, Levy afirmou que o país aproveitou o período de bonança econômica para melhorar a estrutura econômica e social e ampliar as reservas internacionais.
Segundo o ministro, a tendência foi seguida pela maioria dos países latino-americanos, que não sofreram problemas como bolhas (valorização artificial) de ativos, como ocorreu com o crédito imobiliário nos Estados Unidos. “Temos agora, por exemplo, reservas internacionais que não tínhamos antes. Então, acho que esses países [da América Latina] estão recebendo os choques e digerindo”, disse Levy, que participa de reunião do FMI em Lima, no Peru.
Atualmente em torno de US$ 375 bilhões, as reservas internacionais funcionam como um seguro para crises externas, permitindo aos governos evitar problemas com a dívida externa caso a moeda local se desvalorize. Em relação aos avanços sociais, o ministro afirmou que o Brasil, assim como muitos países em desenvolvimento, investiu na formação de uma classe média e na redução da pobreza nos anos de crescimento.
“Nosso país e muitos países aproveitaram o dinheiro da época de bonança para fazer mudanças radicais, incluindo a redução da pobreza, a criação de uma classe média e ampliar o acesso à educação”.
Para Levy, a possibilidade de aumento de juros nos Estados Unidos e a desaceleração da economia chinesa estão fazendo os países emergentes atravessar um momento de transição, que requer ajustes como os executados no Brasil ao longo deste ano.
O ministro defendeu a criação de um título global de infraestrutura para canalizar capitais externos para empreendimentos locais e ajudar os países emergentes a superar a crise internacional. “Precisamos não apenas de fluxo de produtos, mas de fluxo de poupança que podem financiar projetos que garantam crescimento de longo prazo [nos países emergentes]”, afirmou.
Levy destacou que a confiança em relação à economia brasileira precisa ser constantemente construída e defendeu a transparência da gestão econômica como meio para a recuperação da credibilidade. “A melhor maneira é ser claro com suas políticas, com os desafios e como chegar lá. A maioria das pessoas entende quando você está falando a verdade. Nas democracias, isso é fundamental”, disse.
A diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, concordou com Levy e disse que o ministro está no caminho certo em relação às medidas econômicas. “O que ele está tentando fazer é reforçar e reestruturar um clima amigável para os negócios, para que o investimento continue no Brasil. Dizer a verdade, quais são as medidas necessárias. Isso é uma receita para melhora, sem dúvida”, afirmou a diretora.
Levy foi questionado pelo moderador do debate, o jornalista da CNN Richard Quest, se tinha se arrependido de aceitar o emprego de ministro da Fazenda. O ministro foi enfático ao afirmar que sempre é bom estar a serviço do próprio país. “Com certeza não, nunca é ruim trabalhar para o próprio país. Temos um objetivo claro que é preparar nossa economia para o ajuste e chegar ao caminho do crescimento”, disse.