Quarta fase da Operação Zelotes acirra os ânimos em Brasília

G1 - 27 de outubro de 2015
Polícia Federal investiga a venda de Medidas Provisórias.Empresas do setor automotivo teriam sido beneficiadas.


Uma nova fase da operação Zelotes, da Polícia Federal investiga a compra de medidas provisórias para beneficiar empresas do setor automotivo. Os policiais apreenderam documentos em várias empresas, inclusive em uma que pertence a um dos filhos do ex-presidente Lula.


As apreensões e prisões foram feitas no Distrito Federal e três estados. Seis pessoas foram presas: José Ricardo da Silva, ex-conselheiro do Carf; Eduardo Valadão, sócio de José Ricardo; Alexandre Paes dos Santos, lobista; Hallysson Carvalho da Silva, Mauro Marcondes e Cristina Mautoni, sócios do escritório Marcondes e Mautoni.


Mauro Marcondes também é vice-presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos).


Essa quarta etapa da operação teve duas frentes. A primeira envolve a MMC, representante da Mitsubishi no Brasil, e também o grupo Caoa. Segundo as investigações, a quadrilha conseguiu livrar a MMC de multa de mais de R$ 260 milhões no Carf.


Já sobre a Caoa, os documentos não citam valor de multa do grupo que tenha sido reduzido ou anulado. O presidente do grupo, Carlos Alberto Oliveira Andrade, teve que depor.


A outra frente trata de suspeita de compra de legislação, pagamento de propina para elaboração e aprovação de medidas provisórias que beneficiaram o setor automotivo.


Na decisão, a juíza Célia Regina Bernardes afirma que o grupo criminoso atua nessas duas frentes há pelos menos seis anos. Três MPs que concederam incentivos fiscais estão sendo investigadas.


E é nessa parte da investigação que aparecem nomes de pessoas ligadas ao Congresso e ao governo federal. Entre elas, o ex-ministro do governo Dilma e chefe de gabinete do ex-presidente Lula, Gilberto Carvalho. Ele foi ouvido na segunda-feira (26) pela Polícia Federal.


A polícia diz que carvalho seria o contato na presidência da República com os sócios de uma das consultorias investigadas, a SGR, e apresentou um documento apreendido na casa do lobista Alexandre Paes dos Santos, que também foi preso.


Uma anotação do lobista que diz café com Gilberto Carvalho . Outro documento é um e-mail de Mauro Marcondes, da Anfavea, para Gilberto Carvalho. Ele pede ao amigo para que cheguem documentos ao presidente Lula daquela forma informal e low profile que só Gilberto Carvalho consegue fazer.


Na apuração de uma medida provisória que virou lei no ano passado, a polícia fez uma ligação com a empresa LFT Marketing Esportivo, do filho do ex-presidente Lula, Luís Cláudio Lula da Silva.


Os policiais fizeram uma operação de busca e apreensão no escritório. A juíza cita que, de acordo com a investigação, a MMC e a Caoa pagaram ao escritório de Mauro Marcondes pela edição da medida provisória e que, ao analisar a movimentação financeira de saída do escritório, verificou-se o pagamento de R$ 1,5 milhão à LFT, empresa do filho de Lula.


A juiza afirma: Tem razão o MPF ao afirmar ser muito suspeito que uma empresa de marketing esportivo receba valor tão expressivo de uma empresa especializada em manter contatos com a administração pública .


A investigação também fala de corrupção de parlamentares, mas não cita nomes.


A defesa de Luís Cláudio Lula da Silva disse que não conseguiu receber as cópias do processo. Afirmou também que a empresa LFT foi remunerada por serviços devidamente prestados a empresa de Mauro Marcondes e os comprovantes estão à disposição das autoridades.


O Hora 1 não conseguiu contato com a defesa de Mauro Marcondes. A Anfavea informou que ele foi suspenso temporariamente.


Em nota, o ex-ministro Gilberto Carvalho negou qualquer interferência no andamento de medida provisória e disse que não recebeu valores de qualquer pessoa durante os 12 anos no Palácio do Planalto e que ele e o presidente Lula jamais se envolveram nesse tipo de negociação.


A Casa Civil da presidência da República afirmou que não comenta investigações em andamento. O Instituto Lula também não quis se manifestar.


A MMC Automotores afirmou que já colaborava com as investigações.


A Caoa afirmou que o grupo jamais pagou para a aprovação de medidas provisórias e que obteve resultados negativos nos dois recursos que impetrou no Carf.


O Hora 1 não conseguiu falar com a defesa da empresa SGR nem com Alexandre Paes dos Santos.