Temer faz ofensiva sobre aliados de Renan para evitar chapa de oposição

G1 - 01 de fevereiro de 2016

Disposto a costurar um acordo com adversários internos para permanecer no comando do PMDB pelos próximos dois anos, o vice-presidente da República, Michel Temer, deu início a uma ofensiva sobre aliados do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a fim de evitar o lançamento de uma chapa de oposição na eleição que irá escolher o novo presidente do partido.


A votação que elegerá a nova direção do PMDB está prevista para março, durante a convenção nacional da sigla, em Brasília.


Algumas lideranças peemedebistas, como o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), defendem que a legenda aproveite o encontro partidário para discutir o rompimento com o governo Dilma Rousseff.


Atualmente, o PMDB controla, além da Vice-Presidência da República, seis ministérios e diversos cargos de segundo e terceiro escalão do governo federal.


Até o momento, o único candidato para o cargo de presidente do PMDB é Michel Temer. Ele está no comando do partido desde 2001.


No entanto, depois da troca de farpas protagonizada publicamente em dezembro pelo vice-presidente da República e pelo presidente do Senado, aliados de Renan passaram a ventilar o interesse do senador alagoano em patrocinar uma candidatura de oposição a Temer.


Os dois se estranharam após Eduardo Cunha autorizar, no início de dezembro, a abertura do processo de impeachment de Dilma.


Mesmo pressionado por integrantes do Palácio do Planalto a manifestar apoio à presidente da República, Temer optou por não criticar a tentativa de oposicionistas de afastar a petista da Presidência.


Renan, entretanto, aproveitou a ocasião para se aproximar ainda mais de Dilma.


Além de ajudar o Planalto a aprovar no apagar das luzes de 2015 a mudança da meta fiscal e o Orçamento da União para 2016, o presidente do Senado surpreendeu o PMDB ao criticar a postura do presidente do partido no episódio da destituição do deputado Leonardo Picciani (RJ) como líder do PMDB na Câmara.


Simultaneamente, senadores ligados a Renan acusaram o vice-presidente de ter operado uma intervenção na bancada da Câmara para afastar Picciani, que havia indicado apenas deputados afinados com o governo para a comissão especial do impeachment.


À época, Renan acusou Temer e o próprio PMDB – partido comandado pelo vice há 14 anos – de terem "muita culpa" na crise política que o país enfrentou no fim do ano passado.


Em resposta à provocação do presidente do Senado, Temer declarou, por meio de uma nota, que o PMDB "não tem dono nem coronéis". O mal-estar gerado pelas declarações rachou o partido.


Movimentação nos bastidores
Diante do risco de ver surgir uma candidatura de oposição, Temer passou a se movimentar nos bastidores.


A primeira reação do atual presidente do PMDB, relataram ao G1 pessoas próximas a Temer, foi procurar o senador Romero Jucá (RR-PMDB) para pedir que ele intermediasse junto ao grupo de Renan Calheiros uma chapa que contemplasse os aliados do parlamentar alagoano e tivesse o aval dos demais caciques da bancada.


A direção nacional do PMDB é formada por um presidente, três vices, três secretários e dois tesoureiros. Na composição atual, a primeira vice-presidência, a terceira e a tesouraria estão sob o comando de senadores próximos a Renan Calheiros – Valdir Raupp (RO), Romero Jucá e Eunício Oliveira (CE), respectivamente.


Peemedebistas dizem que o objetivo de Romero Jucá é trocar o atual posto de terceiro vice-presidente do PMDB pela presidência ou pelo cargo de primeiro vice – que assume o comando do partido em uma eventual licença do presidente.


Para isso ocorrer, entretanto, o atual primeiro vice, Valdir Raupp, teria de aceitar a troca em uma chapa ainda a ser formada – segundo pessoas próximas ao senador de Rondônia, ele espera ser consultado por Temer antes de a mudança ser definida.


Ao G1, interlocutores de Temer afirmaram que ele procurou o senador Romero Jucá e pediu a ele que intermediasse, junto ao grupo de Renan Calheiros, uma formação que contemplasse os aliados do parlamentar alagoano e tivesse o aval dos caciques da bancada.


"Até onde eu sei, o Renan não tem interesse em disputar a eleição do PMDB e, por ora, patrocinar a de um outro candidato. O que se busca é a formação de um entendimento no qual todos se sintam contemplados. É isso. Tem que conversar e buscar o consenso amplo dentro do partido", afirmou um senador do PMDB entrevistado sob a condição de anonimato.


Segundo relatos de assessores do vice-presidente, Temer está interessado em um acordo com os senadores, e a decisão que lhe for apresentada sobre qual parlamentar deverá ocupar qual cargo terá o aval do atual presidente do PMDB para formar a chapa.


“O importante é fazer a composição neste momento. O ideal é que se estabeleçam as pontes necessárias para o consenso. Michel quer ouvir os senadores, saber qual cenário os interessa mais e, então, decidir o que fazer”, disse um interlocutor do vice.


Viagens
Além da ofensiva sobre os senadores próximos a Renan Calheiros, a outra estratégia adotada por Temer para se garantir na presidência do PMDB é viajar pelo país e se reunir com dirigentes do partido.


Somente nesta semana, por exemplo, ele visitou correligionários do Paraná, de Santa Catarina, do Rio Grande do Norte, da Paraíba e de Pernambuco.


Segundo a assessoria, já há pelo menos mais cinco estados confirmados para Temer visitar ao longo das próximas semanas, e outras viagens estão ainda em fase de planejamento.


Nessas agendas, ele também se reúne com empresários e discute com os colegas de partido as estratégias do PMDB para as eleições municipais de outubro.


Votos
Ao todo, 414 pessoas estão aptas a votar na eleição de março no PMDB, e elas representam 663 votos. No partido, alguns integrantes têm direito a mais de um voto. Por exemplo, um senador que ocupe cargo da direção da legenda vota duas vezes.


Segundo um dos articuladores da campanha de Temer no PMDB, uma estimativa no grupo ligado ao vice é que ele conseguiria, pelo cenário atual, em torno de 500 votos.


De acordo com esse interlocutor, há a tese de que parte dos diretórios do Ceará, Maranhão, Rondônia, Alagoas e Rio de Janeiro tendem a não apoiá-lo se houver outro candidato (esses estados, juntos, somam 242 votos).