Correio Braziliense - 16 de agosto de 2016
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse ontem que até o fim do mês o governo decidirá se é ou não necessário elevar impostos, após as novas estimativas sobre a arrecadação tributária para 2017. Sem apontar uma projeção, ele ressalvou que há indicações de que haverá crescimento significativo do Produto Interno Bruto (PIB) no próximo ano, portanto a receita aumentará.
Técnicos da Fazenda afirmam de modo reservado que a nova expectativa para a elevação do PIB do próximo ano deve passar de 1,2% para 1,6%. Com isso, automaticamente a arrecadação crescerá e não será necessário elevar a tributação. Caso esse cenário otimista não se concretize, porém, "vamos aumentar impostos", destacou Meirelles. Ele participou de um café da manhã em São Paulo com clientes da XP Investimentos. Depois do evento, que foi fechado, falou com jornalistas.
O ministro minimizou as dificuldades nas negociações com o Congresso, sobretudo pelo fracasso da tentativa de limitar reajustes de funcionários públicos nos estados durante as discussões de novas regras para as dívidas. Segundo o ministro, não há dúvidas de que o ajuste fiscal segue "vigorosamente em andamento".
Ele lembrou que o governo pretende limitar o aumento das despesas da União por meio de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC). "Este é o primeiro momento das últimas décadas em que estamos fazendo um ajuste fiscal estrutural nas contas públicas, com mudanças constitucionais", ressaltou. O ministro destacou que 80% das despesas do governo são inscritas na Carta Magna, por isso é necessário aprovar mudanças profundas.
Quanto à frequente comparação que fazem entre ele e o ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy, que também enfrentou dificuldades nas negociações com o Congresso, Meirelles disse se sentir "honrado". "Eu gosto muito do meu amigo Joaquim Levy. Ele é um grande técnico", afirmou.
À tarde, de volta a Brasília, Meirelles se reuniu no Palácio do Planalto com o presidente interino, Michel Temer, e com o ministro do Planejamento, Dyogo de Oliveira. A conversa de duas horas foi centrada na proposta de Orçamento, que deverá ser enviada ao Congresso até o fim deste mês. Não está previsto aumento de impostos no projeto, o que torna ainda mais complicado o esforço de acomodar as despesas. Novo encontro ficou marcado para daqui a uma semana.
Além de concluir a proposta de Orçamento, Temer espera também que seja concluído até o fim do mês o processo de impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff. Ele quer participar do encontro dos líderes do G20, na China, no início de setembro. Mas só estará lá se for na condição de chefe de Estado .
Mercado vê alta da inflação
No primeiro relatório Focus, do Banco Central (BC), divulgado após os dados mais recentes do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), as previsões de analistas de mercado pioraram. Em meio à forte pressão nos preços dos alimentos, os economistas elevaram de 7,20% para 7,31% a projeção da inflação para este ano. Para 2017, o mercado manteve em 5,14% a previsão para o IPCA. Entre as instituições que mais se aproximam do resultado, denominadas Top 5, as medianas das projeções para este ano também pioraram, passando de 7,20% para 7,41%. Para 2017, foram de 4,97% para 5,25%.