Temer já reconhece pressão por reformas

JORNAL DO COMMERCIO - AM - 04 de outubro de 2016


Ao chegar ao Paraguai para sua primeira visita bilateral ao país nesta segunda (3), 0 presidente Michel Temer disse que 0 "número imenso" de abstenções e de votos brancos e nulos mostra a "necessidade indispensável" de passar uma reforma política no Congresso.
Temer, que já havia falado sobre essa relação em sua escala em Buenos Aires, nesta segunda (3), indica que deve aproveitar esses números para tentar avançar 0 debate sobre a reforma política no parlamento.


"Devo registrar uma preocupação: acabei de verificar um número imenso de abstenções, votos em branco e nulos, 0 que revela 0 que ouso dizer a indispensável necessidade de uma reforma política do país", disse Temer. "Algo que penso que 0 Congresso Nacional deve cuidar com muita propriedade."


Só em São Paulo, 34,7% dos eleitores aptos a votar não foram às umas ou votaram em branco ou nulo.


Questionado sobre 0 desempenho de João Doria (PSDB), que venceu a eleição no primeiro turno em São Paulo, 0 chanceler José Serra não quis comentar. O ministro apoiava seu amigo Andréa Matarazzo nas prévias tucanas.


Temer foi recebido no aeroporto de Assunção pelo chanceler paraguaio, Eladio Loizaga, e se reúne nesta noite com 0 presidente Horacio Cartes na residência oficial. Logo após 0 jantar oferecido por Cartes, Temer embarca de volta para Brasília.


Na comitiva, estão, além do chanceler José Serra, os ministros Raul Jungmann (Defesa), Alexandre de Moraes (Justiça), Sérgio Etchegoyen (Gabinete de Segurança Institucional) e Marcos Pereira (Desenvolvimento, Indústria e Comércio). Também participam da viagem à Argentina e ao Paraguai os senadores Lasier Martins (PDT-RS) e Zezé Perrella (PTB-MG) e os deputados Roberto Freire (PPS-SP) e Luiz Carlos Heinze (PP-RS).


Pela manhã, um grupo de cerca de 20 paraguaios protestou em frente à embaixada brasileira contra a visita do presidente, com faixas com os dizeres "Fuera Temer golpista".


Fronteira


O interesse brasileiro em liderar um esforço no controle de fronteiras na região deve dominar a reunião entre os presidentes. A ideia é coordenar, regionalmente, ações de combate ao narcotráfico e ao contrabando.


O governo brasileiro está articulando, para a primeira semana de novembro, uma reunião em Brasília com os ministros de Paraguai, Argentina, Uruguai e Bolívia responsáveis pelas áreas envolvidas no tema, como Defesa, Interior e Justiça.


Outro tema do encontro será 0 comércio bilateral. Nos últimos três anos, os investimentos brasileiros no Paraguai somaram cerca de US$ 350 milhões.


Os principais atrativos do Paraguai são uma carga tributária menor, além de terra, mão de obra e energia mais baratas.


No último sábado, a JBS inaugurou um terceiro frigorífico no país, com cerca de 400 funcionários. Outras empresas brasileiras, nas áreas de vestuário, autopeças e brinquedos, estão construindo fábricas no país.


Há a expectativa que os dois governos anunciem na noite de segunda um acordo para melhorar a conexão de internet no Paraguai, com fornecimento do Brasil, aproveitando a linha de transmissão de Itaipu a Assunção, que já possui fibra ótica.


Na Argentina, minimiza perdas


Após seu partido perder as eleições nas duas maiores cidades do país, 0 presidente Michel Temer minimizou a derrota e destacou que o PMDB quase conseguiu manter 0 número de prefeituras -em 2012 foram 1.017 e, neste ano, 944.


Temer também se desassociou das perdas em São Paulo e no Rio de Janeiro -dizendo que não participou da campanha de nenhum político -e frisou que é preciso "festejar" a democracia exercida no domingo (2).


"Não saí da sala da Presidência da República [para fazer campanha]. Não gravei um vídeo", disse em Buenos Aires, onde chegou na manhã desta segunda (3) para se reunir com seu par argentino, Mauricio Macri.


De acordo com Temer, ele não apoiou ninguém publicamente porque sua base parlamentar é ampla, com candidatos de diferentes partidos em cada cidade.


Em relação a alta taxa de ausência e de votos nulos em todo 0 país, Temer admitiu que há uma decepção popular com a classe política e que os partidos precisam "reformular eventuais costumes inadequados" após 0 recado das umas.


O dirigente lembrou 0 caso do prefeito eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), que venceu no primeiro tumo com 53,3% e que destacava, em sua campanha, não ser político e, sim, empresário. "Isso deve ter auxiliado nos votos que ele obteve."


Protestos


Sobre ter votado em um horário diferente do anunciado por sua equipe, Temer disse que não fugiu de protestos, mas que teve que comparecer a um compromisso. "A imprensa estava toda lá e registrou. Agora, se havia protestos mais tarde e eu evitei, tanto melhor para mim e para a democracia."


Cerca de 40 brasileiros se manifestaram contra 0 mandatário, nesta segunda, diante da Quinta de Olivos, a residência oficial da Presidência, onde ocorreu 0 encontro com Macri. Temer frisou não se incomodar com os atos e que eles são naturais na democracia.