Superavit da balança é recorde

CORREIO BRAZILIENSE - DF - 03 de janeiro de 2017

A balança comercial brasileira teve um superavit histórico de US$ 47,7 bilhões em 2016 e bateu o recorde anterior, de 2006, quando a diferença entre as exportações e as importações ficou positiva em US$ 46,4 bilhões. Esse desempenho é resultado, principalmente, da forte queda das compras brasileiras no mercado externo, que despencaram 20,1% entre janeiro e dezembro do ano passado, na comparação com o mesmo período de 2015, somando US$ 137,5 bilhões. Os dados foram divulgados ontem pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic).
As exportações encerraram 2016 com queda de 3,5% em comparação com a média diária de 2015, acumulando US$ 185,2 bilhões. O dado poderia ter sido pior se não fossem contabilizadas como exportações a venda de cinco plataformas de petróleo para subsidiárias da Petrobras no exterior, mas que não saíram fisicamente do território nacional. O artifício contábil somou US$ 3,6 bilhões, valor que, se fosse descontado, o superavit de 2016 deixaria de ser recorde.

O secretário de Comércio Exterior do Mdic, Abrão Neto, evitou fazer qualquer tipo de exercício de comparação com as plataformas. "O registro das exportações de plataforma ocorrem desde 2004, quando se tem venda no exterior e o pagamento é feito em moeda exterior", afirmou. Ele minimizou a queda das exportações. "A taxa de 3,5% ficou abaixo do recuo médio de 4% dos 30 maiores países exportadores do mundo, conforme dados da Organização Mundial do Comércio", disse.

Neto destacou que os movimentos de exportação e de importação "geraram superavit recorde de US$ 47,7 bilhões, dentro da margem estimada pelo ministério, de US$ 45 bilhões e US$ 50 bilhões". "É o maior superavit comercial desde o início da série histórica e supera o anterior, de 2006", emendou. Para este ano, o secretário estima que o saldo comercial deverá ficar no mesmo patamar, entre US$ 47 bilhões e US$ 48 bilhões.

Segundo Abrão, o volume exportado de produtos brasileiros também foi recorde. Somou 645 milhões de toneladas, chegando ao sétimo ano seguido de alta graças aos aumentos consideráveis na quantidade embarcada de minério de ferro, petróleo, celulose e açúcar. Esse último deu um salto de 24,5% no volume exportado e de 39,8% no valor comercializado, para US$ 5,6 bilhões. No entanto, um dos principais produtos da balança comercial, a soja, teve quedas tanto em volume quanto em quantidade, de 8,2% e de 5,4%, devido à quebra de safra. O volume de café exportado recuou 9,4%, e os valores, 13,4%. Já o minério de ferro registrou alta de 1,7% no volume e queda de 6% no valor exportado.

O secretário destacou que o número de empresas exportadoras cresceu 9,3% no ano passado em relação a 2015, totalizando 22.205. Ele ainda informou um superavit inédito na balança comercial do petróleo de R$ 410 milhões como fator e o aumento de 1,2% nas exportações de manufaturados, principalmente, de aviões e automóveis, que tiveram altas de 15% e 44,3% em quantidade, respectivamente, e de 6% e de 38,2%, em valores, no ano passado.

Sem festa

Para o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, não há o que comemorar. Ele lembrou que, sem as plataformas de petróleo, o desempenho dos manufaturados teria sido ruim. "Sem a ajuda, as exportações de manufaturados teriam queda de 1%", destacou. "O saldo comercial é resultado de uma atividade econômica muito fraca no país, aliada à queda dos preços das commodities. Além disso, a conta de petróleo ficou positiva pela primeira vez na história porque o mercado interno está muito ruim. É o retrato da recessão", afirmou. Pelas contas de Castro, o superavit comercial deste ano poderá chegar a US$ 51,6 bilhões porque há perspectivas de melhora na safra da soja e de uma recuperação nos preços das commodities.

Indústria fecha ano em contração

A atividade da indústria brasileira atingiu, em dezembro, o menor nível em seis meses, de acordo com o Índice Gerentes de Compras (PMI, em inglês), da empresa internacional de análise e soluções industriais Markit. O PMI caiu de 46,2 em novembro para 45,2 em dezembro. No mesmo mês de 2015 estava em 45,6. Leituras abaixo de 50 significam contração. Segundo relatório da Markit, houve uma queda mais aguda nas novas encomendas, inclusive de exportação, que se refletiu numa diminuição da produção, na compra de insumos e em mais demissões.