Deputados começam campanha para eleger presidente da Câmara

CORREIO BRAZILIENSE - ON LINE - 04 de janeiro de 2017

A movimentação para a eleição da presidência da Câmara segue forte em Brasília. O pré-candidato e deputado Rogério Rosso (PSD-DF) sugeriu ontem ao presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), outro no páreo, que realize um debate entre os postulantes ao cargo na TV Câmara. A proposta foi protocolada na Secretaria Geral da Mesa da Câmara e divulgada em dois vídeos publicados pelo deputado em redes sociais. O pré-candidato Jovair Arantes (PTB-GO) apoiou a ideia. Rosso disse que o quarto oponente, André Figueiredo (PDT-CE), também concorda - o pedetista não foi localizado pela reportagem.
Com o pedido de debate, a ideia é pressionar Maia a assumir a candidatura. O atual presidente nega que esteja decidido, mas admite que tem conversado com "todos os partidos". Questionado, Maia não respondeu se aceita a ideia do debate. Segundo Rosso, a eleição da Casa não interessa apenas aos deputados, que são os votantes, mas a toda a população. Com o impeachment de Dilma Rousseff, Michel Temer assumiu o poder, portanto, qualquer ausência dele do país torna o presidente da Câmara o sucessor natural no Palácio do Planalto. Além disso, reformas sensíveis à sociedade estão em discussão, como as mudanças na Previdência Social e nas leis trabalhistas.

Jovair Arantes acertou ontem à tarde a criação de um comitê de campanha em seu apartamento funcional na 302 Norte. Ele disse ao Correio que o local começa a funcionar semana que vem. Lá, haverá materiais de campanha e exposição visual. "Quem não é visto, não é lembrado", afirmou o deputado. Arantes disse que não é candidato do Centrão, grupo que reúne 13 partidos, mas de toda a Câmara. "Decidimos sair desse negócio de Centrão, de direitona ou de esquerdona e dialogar com as bancadas. Minha candidatura é da Casa." Ele chegou a dizer que a figura do Centrão está "extirpada", negou ser candidato a ministro do governo Temer e disse que não disputa a presidência para barganhar um posto no Executivo.

Na última segunda-feira, Rodrigo Maia afirmou que, caso seja candidato à reeleição, isso é permitido pela Constituição e, portanto, o Supremo Tribunal Federal (STF) não interferirá na escolha. Duas ações no STF questionam a possibilidade de reeleição. Maia disse que político tem que ganhar no voto e não no Judiciário. "Time pra ser campeão tem que enfrentar qualquer um", concordou Jovair. "Não posso escolher adversário." No entanto, ele disse que o presidente da Câmara "rasga" a Constituição ao tentar ser reconduzido. Já Rosso afirma que Maia causa "instabilidade" política e jurídica.

A eleição da Câmara preocupa o Planalto. Michel Temer cancelou viagem a Davos, no Fórum Econômico Mundial, para acompanhar tudo de perto. Jovair disse que Temer lhe garantiu que não apoia Maia, apesar de, nos bastidores, a opinião ser divergente. Oficialmente, a posição do Planalto é não defender nenhum postulante. Entretanto, Maia foi um grande aliado do governo, que deseja alguém no comando da Câmara que não provoque turbulência em um momento já complicado para emplacar uma agenda econômica.

À exceção do episódio em que articulou a retirada das contrapartidas dos estados para obterem benefícios na renegociação de dívidas, Maia tem sido um importante e fiel aliado do governo nas reformas econômicas. Ele é genro secretário do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI) do governo Moreira Franco, que trabalhou por sua candidatura em julho, na sucessão de Eduardo Cunha. Se houver reeleição, o Planalto já sabe como tudo vai funcionar. Caso contrário, a negociação terá de ser refeita. Rogério Rosso, por exemplo, defende que a reforma da Previdência seja feita "sem atropelamentos" para garantir tanto a "eficiência das contas públicas" quanto a "justiça social".