A hora de um afago nos governadores

Correio Braziliense - 14 de junho de 2017


Em jantar no Alvorada, Temer sinaliza com renegociação da dívida dos estados com o BNDES e a liberação de verbas para obras regionais de infraestrutura para impulsionar a economia


O presidente Michel Temer reuniu 15 governadores ontem, entre eles os dos três maiores estados do país - Geraldo Alckmin (São Paulo), Luiz Fernando Pezão (Rio) e Fernando Pimentel (MG) - para negociar um alongamento das dívidas com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e impulsionar obras regionais de infraestrutura. Com isso, o governo quer ajudar a impulsionar a economia e diminuir a pressão que sofre pela aguda crise política decorrente das delações da JBS.O Planalto alega que não há como ser acusado de proselitismo político, uma vez que o encontro foi sugerido pelo governador de Goiás, Marconi Perillo, e contou com a presença de petistas, como Fernando Pimentel e Tião Viana, do Acre. Mas um dos argumentos apresentados pelo governo para defender a própria permanência é a manutenção da estabilidade econômica."A economia já está destravando, o varejo está se recuperando e vamos atingir, no primeiro semestre, um desempenho do PIB melhor do que o previsto anteriormente pelo Fundo Monetário Internacional (FMI)", disse um interlocutor palaciano. O jantar de ontem envolvia cifras consideráveis. Os cálculos preliminares apontam uma disponibilidade de caixa do BNDES de até R$ 50 bilhões para obras em infraestrutura, a depender dos projetos apresentados pelos governadores.

Temer também quer contar com o apoio dos governadores - da base, especialmente - para a aprovação das reformas em tramitação no Congresso. O governo espera fidelidade e apoio dos chefes de Executivos estaduais na interlocução política com os respectivos deputados e senadores para pressioná-los a votar pela aprovação das reformas trabalhista e da Previdência. A trabalhista, mais adiantada, deve ser aprovada até o fim deste mês. A da Previdência tem futuro indefinido.

O governo também quer passar, ainda, a imagem de que segue fortalecido após a vitória no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ao conseguir manter o apoio do PSDB na base do governo. "O presidente quer mostrar que segue trabalhando normalmente, com empenho para tirar o país da crise. Quer mostrar aos governadores o que está acontecendo e as medidas adotadas para superar os obstáculos políticos", afirmou um interlocutor.

"Dinheiro novo"

O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), disse que o convite para o jantar feito pelo presidente Michel Temer no Palácio da Alvorada em busca de apoio dos governadores foi uma espécie de "convocação".

De acordo com ele, os governadores estão unidos para um pedido comum ao presidente, que é a renegociação das dívidas estaduais junto aos bancos públicos. "Nós temos uma pauta que estamos discutindo dentro do governo e que vai ser pedida no jantar, que é a securitização das dívidas ativas." Ele destacou que o pleito de todos os governos é de alongar as dívidas com o BNDES com três a quatro anos de carência, sendo que algumas estão acordadas, mas ainda não foram aprovadas. Pezão disse ainda que linhas novas não fazem parte do pleito, mas ele espera que elas entrem na negociação. "Tomara que tenha. Dinheiro novo sempre é bom", afirmou.

Além dos governadores, estiveram presentes ao jantar os integrantes da equipe econômica, incluindo os presidentes do BNDES, Paulo Rabello; da Caixa Econômica Federal, Gilberto Occhi; e do Banco do Brasil, Gustavo do Vale.

Cunha vai depor hoje

O deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) vai prestar depoimento hoje no inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o presidente Michel Temer, após a delação dos empresários do Grupo J&F. A oitiva está marcada para as 11h, na sede da Superintendência da Polícia Federal de Curitiba.  Em manifestação enviada ao STF, porém, a defesa do peemedebista pede para que o depoimento seja adiado, pois os elementos do inquérito "não são de pleno conhecimento" de Cunha. Um eventual adiamento do depoimento depende do aval do relator do caso no Supremo, ministro Edson Fachin.  Cunha, que está preso desde outubro em Curitiba, não é formalmente investigado no caso, mas foi citado na conversa entre o empresário Joesley Batista e Temer, que aconteceu no Palácio do Jaburu.

Joesley no Brasil

Ausente do Brasil desde que fechou o acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal, o empresário Joesley Batista, do grupo J&F - controlador da JBS -, retornou ao país no último domingo. Na segunda-feira, ele esteve em Brasília, onde prestou depoimento ao MPF no inquérito que investiga supostos repasses de US$ 80 milhões para os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, ambos do Partido dos Trabalhadores. Ele foi ouvido pelo procurador Ivan Marx. Ontem, participou de encontros de trabalho em São Paulo.

Segundo a defesa do empresário, Joesley "estava na China - e não passeando na Quinta Avenida, em Nova York, ao contrário do que chegou a ser noticiado. Não revelou seu destino por razões de segurança. Viajou com autorização da Justiça brasileira. É cidadão brasileiro, mora no Brasil, paga impostos no Brasil e cria seus filhos no Brasil. Está pessoalmente à disposição do Ministério Público e da Justiça para colaborar de forma irrestrita no combate à corrupção."

Bendine investigado

Alvo de delações da Odebrecht na Operação Lava-Jato, o ex-presidente da Petrobras Aldemir Bendine será investigado no Paraná. Ele foi presidente do Banco do Brasil entre abril de 2009 e fevereiro de 2015. No mesmo mês, Bendine assumiu o comando da petroleira e renunciou ao cargo em maio de 2016. O juiz federal Sérgio Moro autorizou a abertura de inquérito policial na sexta-feira passada. A investigação corre sob sigilo, segundo o magistrado, "a fim de preservar as diligências ainda a serem realizadas". Os depoimentos dos executivos Marcelo Odebrecht, herdeiro da empreiteira, e Fernando Ayres da Cunha Santos Reis sobre Bendine foram enviados do Supremo Tribunal Federal (STF) para a 13ª Vara Federal de Curitiba, sob responsabilidade de Moro. Eles narram "suposta solicitação e pagamento de vantagem indevida a Aldemir Bendine na condição de presidente da Petrobras".