Agência Câmara Notícias - 02/08/2017
Passada a votação que negou ao Supremo Tribunal Federal (STF) a possibilidade de analisar a denúncia contra o presidente Michel Temer por corrupção passiva, aliados e oposicionistas definem a agenda do segundo semestre. O foco da oposição é a possibilidade de o Congresso receber uma segunda denúncia contra o presidente, enquanto o governo fala em voltar a discutir as reformas, como a da Previdência, já a partir da próxima semana.
A continuidade da Operação Lava Jato foi destacada pelo deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA). “A Operação Lava Jato continua e há inclusive, nos bastidores, indícios de que poderá chegar aqui uma segunda ou terceira denúncia contra o presidente”, afirmou. “A sociedade não tolera mais a corrupção”, disse Jordy.
O PPS chegou a fazer parte do governo Temer, mas abriu mão do Ministério da Cultura após a denúncia contra Temer.
O deputado Alessandro Molon (Rede-RJ) aposta na baixa popularidade de Michel Temer e na expectativa de repercussão negativa do resultado atual para alterar os votos da segunda denúncia. “Nossa expectativa é que a reação negativa da população a esse resultado faça com que, na próxima votação, o Parlamento vote diferente na segunda denúncia, que certamente virá”, afirmou.
Reformas
O deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), vice-líder do governo, minimizou o discurso da oposição e disse que os aliados vão derrubar qualquer outra denúncia e mudar a agenda do Parlamento. Segundo ele, a votação desta quarta-feira (2) confirmou que Temer tem a base necessária para promover as reformas econômicas. A reforma da Previdência, segundo ele, já será discutida na próxima semana.
“Michel começa amanhã uma nova fase do seu governo, com novas reformas microeconômicas, medidas provisórias necessárias, vem a reforma da Previdência nos próximos 15 dias, a reforma tributária também”, afirmou.
Perondi disse que o silêncio das ruas fala em favor do governo. “É uma vitória esplendorosa”, declarou.
Esta não é a avaliação do líder da Minoria, deputado José Guimarães (PT-CE), para quem o placar da votação de hoje expõe as fragilidades do governo. “Os números mostram que o governo não tem os números que diz ter. Não tem, por exemplo, os 308 votos necessários para votar uma proposta de emenda à Constituição. O governo perde força e perde na governabilidade”, avaliou.
O deputado Pauderney Avelino (DEM-AM), no entanto, rebateu as críticas. Ele disse que a votação desta solicitação para que o presidente seja processado não pode ser comparada com as votações das reformas. “As reformas são importantes, e a Câmara tem consciência disto”, afirmou.
O líder do DEM, deputado Efraim Filho (PB), disse que o primeiro desafio deve ser a reforma política, já que as mudanças precisam estar em vigor até outubro para valer nas eleições de 2018. “Está na hora de a Câmara resgatar suas agendas prioritárias, como a retomada do crescimento econômico, o resgate dos empregos perdidos, a pauta da segurança pública, e tratar também da reforma política, porque temos prazos. Talvez seja este o maior desafio”, disse.
Apesar do voto contrário de parte do PSDB a Temer, o líder do partido, deputado Ricardo Tripoli (SP), negou possibilidade de desembarque do governo e ressaltou o compromisso com as reformas. “Temos compromisso com as reformas, independentemente de ser este ou outro governo”, afirmou.
Estratégia
A votação da denúncia contra Temer durou mais de 12 horas, com alguns momentos de tensão e bate-boca entre base e oposição. Os deputados de partidos contrários a Temer se mobilizaram, com sucesso, para que a fase de voto nominal dos parlamentares se iniciasse apenas no início da noite.
Mesmo assim, o deputado Silvio Costa (PTdoB-PE) disse que a oposição errou ao marcar presença. Se todos os votos contrários fossem ausências, argumentou, o governo não teria voto para arquivar a denúncia nesta noite. “Na verdade, foi um erro primário. Bastava que os votos contrários não marcassem presença e Temer iria continuar a ter de se explicar toda semana”, criticou.