Agência Câmara Notícias - 12/09/2017
O deputado Carlos Marun (PMDB-MS) foi escolhido para ser o relator da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga se houve irregularidades nas operações entre o grupo J&F e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
“Sei que a minha indicação desagradou a alguns membros da comissão e do Parlamento. Isso não me causa surpresa. A política tem dois lados e um muro. Sempre fiz questão de ter um lado”, disse Marun, ao assumir a relatoria. Ele afirmou se sentir “completamente independente” para o exercício da função.
A confirmação, pelo presidente da CPMI, senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO), do nome de Marun para o posto de relator gerou reações imediatas.
Os senadores Otto Alencar (PSD-BA) e Ricardo Ferraço (PSDB-ES), por exemplo, anunciaram que vão sair do colegiado por discordarem da escolha.
Alencar afirmou que o encontro, no último sábado (9), de Ataídes Oliveira com o presidente Michel Temer enfraquecia a condução dos trabalhos da comissão do ponto de vista moral. “Dentro desta CPMI chapa-branca, estou pedindo a retirada do meu nome para não participar desta farsa.”
Em resposta, Oliveira disse não ter falado com o presidente da República sobre a comissão, mas, sim, acerca da duplicação de uma rodovia. “Quantas vezes o presidente Michel me convidar para tratar de coisas do meu estado, eu irei.”
O presidente da CPMI reconheceu, porém, que conversou sobre os trabalhos do colegiado com o ministro da Secretaria de Governo, Antônio Imbassahy, ao final da reunião com Temer.
Reconsideração
O deputado Glauber Braga (Psol-RJ) pediu a Oliveira que a escolha de Marun fosse reconsiderada. “Não queremos que esta CPMI seja transformada em quartel general de blindagem de Temer e para fustigar adversários políticos de dentro e fora do Parlamento”, declarou.
Já na opinião do deputado Fausto Pinato (PP-SP), que ressaltou ter tido desavenças com Marun no processo contra o ex-deputado Eduardo Cunha, a definição do relator foi justa e legal.
Sub-relatorias
Ataídes Oliveira também criou nesta terça-feira (12) duas sub-relatorias. O deputado Delegado Francischini (SD-PR) assumirá a sub-relatoria de contratos da JBS (uma das empresas controladas pela J&F), englobando BNDES e BNDES-Par, e o deputado Hugo Leal (PSB-RJ) ficará com a sub-relatoria de assuntos fiscais, previdenciários e agropecuários.
Audiências
Foram apresentados até agora à CPMI mais de 130 requerimentos de audiências. Os parlamentares pedem, por exemplo, a convocação de Joesley e Wesley Batista e do executivo do grupo J&F Ricardo Saud. Joesley e Saud estão presos, por determinação do ministro Edson Fachin, responsável no Supremo Tribunal Federal (STF) pela Operação Lava Jato.
Outros pedidos citam os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff; os ex-ministros José Eduardo Cardozo e Guido Mantega; o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha; e o ex-procurador da República Marcello Miller.
O grupo J&F, dirigido pelos irmãos Joesley e Wesley Batista, controla o frigorífico JBS e outras companhias. A CPMI vai apurar as operações da holding com o BNDES ocorridas entre os anos de 2007 e 2016. A comissão de deputados e senadores investigará também o acordo de colaboração premiada do Ministério Público Federal com executivos das empresas.