Agência Câmara Notícias - 04/10/2017
Em depoimento sigiloso à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da JBS, o advogado Willer Tomaz de Souza, acusado de corromper o procurador da República Ângelo Goulart Villela a mando do empresário Joesley Batista, alegou ter sido preso ilegalmente e, em sua defesa, fez ataques ao ex-procurador geral da República Rodrigo Janot e aos procedimentos adotados pelo Ministério Público Federal para celebrar acordos de delação premiada com os executivos do grupo J&F.
Os detalhes das críticas e acusações não foram divulgados, mas ao sair da reunião o relator da comissão, deputado Carlos Marun (PMDB-RS), disse que os elementos fornecidos por Souza são suficientes para questionar o modo como o Ministério Público formalizou os acordos de delação e para ele acreditar que houve um “complô” para derrubar o presidente Michel Temer.
Para Marun, depois do depoimento do advogado, passou a ser “imprescindível” o depoimento de Janot à CPMI. "É muito grave. No meu modo de ver, isso sinaliza a existência de um complô que envolveu uma série de pessoas, empresas e até membros de instituições com o objetivo final de derrubar o presidente Temer", disse Marun.
O depoimento foi tomado em reunião reservada, sem a presença da imprensa e até de assessores dos integrantes da comissão, a pedido do próprio advogado, que alegou o sigilo dos inquéritos que o envolvem.
O presidente da comissão, senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO), foi na mesma linha do relator e, com base no depoimento do advogado, questionou a legalidade das delações premiadas dos executivos da J&F, usadas para embasar a denúncia feita pelo ex-procurador geral da República Rodrigo Janot contra o presidente Michel Temer por corrupção passiva. “A delação tinha como alvo o presidente Michel Temer, e Janot tinha o objetivo de se manter no cargo e eliminar os adversários”, disse Oliveira.
Outros membros da CPMI, como o deputado Delegado Francischini (SD-PR) e o senador Lasier Martins (PSD-RS), não entraram em detalhes a respeito do teor do depoimento do advogado, mas afirmaram que as declarações do advogado mudam o foco das investigações.
Razões políticas
A avaliação, porém, não é unânime na comissão. Para o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), as afirmações do advogado fazem parte de uma estratégia de defesa e estão sendo endossadas pela CPMI por razões políticas. "Isso aqui é uma CPMI de carta marcada. Pegam um réu investigado, que foi preso, e tomam o depoimento dele com um objetivo só: acertar o relator da Lava Jato – o ministro Edson Fachin –, o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot e todos os membros do Ministério Público para desqualificar as denúncias sepultar a Operação Lava Jato”, disse.
Rodrigues atribuiu essa linha de investigação a um grupo formado por partidos como o PT, PMDB e PSDB.
O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) rebateu a afirmação. "O senador Randolfe não participou da reunião. Eu refuto qualquer tipo de ilação nesse sentido. O que acontece é que ninguém está imune de ser investigado”, afirmou.
Acusações
Willer Tomaz de Souza advogou para empresa de celulose Eldorado, do grupo JBS, investigada pela Operação Greenfield, da Polícia Federal, que apura fraudes em aplicações de recursos de fundos de pensão. A Eldorado tem como sócios dois fundos de pensão investigados, o Petros (dos funcionários da Petrobras) e a Funcef – dos funcionários da Caixa Econômica Federal.
De acordo com Joesley Batista, em sua delação premiada, a aproximação entre Souza e Ângelo Goulart Villela ocorreu durante as investigações, já que o procurador fazia parte da força tarefa do Ministério Público Federal encarregada operação Greenfield.
Segundo outro delator, o ex-diretor jurídico do grupo JBS Francisco de Assis Silva, o procurador recebia uma “ajuda de custo” de R$ 50 mil por mês, intermediada por Souza, para repassar informações, que incluíram também negociações relativas à delação premiada.
Silva disse, em depoimento, que Villela chegou a entregar ao grupo gravação de um depoimento sigiloso do Mário Celso Lopes, ex-sócio dos Batista na fábrica de celulose.
O relator da CPMI, Carlos Marun, revelou que o advogado afirmou, no depoimento sigiloso, que Villela apenas tentava convencer Joesley Batista a celebrar acordo de delação com o Ministério Público, e negou que isso tenha envolvido pagamentos. De acordo com Marun, Villela foi acusado de receber propina por Janot em represália a seu apoio à atual procuradora-geral da República Raquel Dodge.
“O procurador Ângelo [Villela] realmente teve interesse em ser o protagonista de um processo de delação do Joesley e do Wesley, mas as conversas nunca evoluíram”, disse Marun.
O relator da comissão disse acreditar que as prisões de Souza e Villela foram ilegais. No depoimento sigiloso, o advogado apresentou cópias de depoimentos recentes de Joesley Batista e de Francisco de Assis Silva em que eles dizem não ter certeza de que Villela foi corrompido por Souza. “Depois de presos, eles disseram apenas ter ouvido falar disso”, afirmou Marun.
Procedimentos questionados
A narrativa, segundo Marun, coloca em dúvida os procedimentos do Ministério Público relativos aos acordos de delação premiada. Ele disse ainda que não há provas do envolvimento do presidente Michel Temer em irregularidades. Questionado a respeito da mala com RS 500 mil recebidas pelo ex-assessor de Temer Rodrigo Rocha Loures, supostamente a mando de Joesley, Marun foi categórico: “A mala era do Loures. Não há nenhuma prova de que ela tenha sido entregue ao presidente.”
Na reunião desta quarta, o deputado Wadih Damous (PT-RJ) foi designado sub-relator da comissão, com a atribuição de tratar de vazamento de informações e proposições legislativas.