Agência Câmara Notícias - 09/11/2017
Pesquisadores, representantes do governo e da indústria foram unânimes em apontar, em seminário na Câmara, a necessidade de retomar o papel da indústria no crescimento econômico do País. Houve, porém, três orientações sobre como o Estado deve atuar para mudar o cenário de queda do setor.
O seminário, promovido pela Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público, debateu na terça-feira (7) o tema “Desafios para a Reindustrialização Nacional”. O evento foi requerido pelo presidente do colegiado, deputado Orlando Silva (PCdoB-SP).
Segundo Orlando Silva, a indústria de transformação tem um peso no Produto Interno Bruto (PIB) equivalente aos anos 40 e 50. “Isso revela a necessidade de nós retomarmos as iniciativas para garantir o papel da indústria no desenvolvimento do Brasil.”
A participação do setor no PIB brasileiro chegou, no acumulado do segundo trimestre deste ano, a 9,98%. O declínio vem desde a década de 1980.
Capital privado
Segundo o gerente-executivo de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, a indústria brasileira é hoje menos da metade do que foi há três décadas.
É preciso melhorar o ambiente de negócios, a regulação, as relações de trabalho. No caso da infraestrutura, por meio da participação do capital privado, porque o Estado não tem recursos. O tamanho do deficit fiscal é colossal”, afirmou.
Castelo Branco culpou o chamado Custo Brasil (infraestrutura deficitária, insegurança jurídica, burocracia, sistema tributário) pela dificuldade do setor em sair do declínio. Segundo ele, o Brasil está com comportamento industrial semelhante ao dos países industrialmente avançados (com diminuição da participação da indústria para o setor de serviços), sem ter chegado ao nível de renda dessas nações.
Indústria nacional
Já o professor de economia política da Universidade de São Paulo (USP) Gilberto Bercovici afirmou que o Brasil precisa renacionalizar sua indústria com ênfase nos setores de maior valor agregado e intensidade tecnológica para retomar o processo de desenvolvimento. “Não se faz política industrial destruindo o setor elétrico brasileiro, a Petrobras e todo o parque de insumos básicos, como vem sendo feito ultimamente nos últimos anos”, disse.
De acordo com Bercovici, os países com indústria mais avançada, como Estados Unidos, China e Alemanha, têm o controle das fontes de matéria-prima como estratégico para o processo industrial.
Para o deputado Davidson Magalhães (PCdoB-BA), a agenda da CNI parece a do mercado financeiro. “O que está dando certo no mundo é o modelo de arranjos produtivos com papel fundamental do Estado.”
Estado orquestrador
Para o diretor do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) Carlos da Costa, o Estado deve atuar como “orquestrador” sem uma participação tão intensa sobre cada ramo da economia. “Não é mais o Estado dizer o que as empresas e as pessoas têm que fazer. Isso é coisa do passado. É trazer as várias partes para a mesa e ajudar o mundo a tomar questões complexas.”
O BNDES formou um grupo de estudo para definir uma agenda de desenvolvimento para o País. Costa citou alguns pontos essenciais para a retomada da indústria, como ambiente macroeconômico estável, simplificação do sistema tributário e institucionalização de marcos regulatórios.
Indústria 4.0
O presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Luiz Augusto Ferreira, avaliou que o Brasil tem potencial para ser protagonista na chamada 4ª revolução industrial, mesmo com atrasos em pontos como infraestrutura e recursos humanos bem formados.
“Temos que aprender a transformar os produtos brasileiros. Se não aproveitarmos, perderemos a janela de oportunidade e, com isso, 20 anos de desenvolvimento do País”, afirmou.
Também chamada de indústria 4.0, a nova revolução é baseada na convergência e sinergias de tecnologias como robótica, inteligência artificial, big data (análise de volumes massivos de dados) e realidade aumentada.