'Silêncio' do BC gera ansiedade no mercado

VALOR ECONÔMICO - 24 de agosto de 2018

O novo salto do dólar aumenta a ansiedade no mercado, que aguarda qualquer sinalização do Banco Central sobre uma possível intervenção no câmbio. Alguns especialistas afirmam que já existem motivos para uma nova atuação da autoridade monetária. Outros temem que isso pode ser prematuro, principalmente diante da incerteza eleitoral. Mas, independentemente do lado da argumentação, o fato é que o silêncio do BC é colocado em xeque no mercado.

A atenção ao tema é tamanha que isso foi discutido por economistas em reuniões com representantes do BC em São Paulo. A visão de parte dos especialistas é que o dólar mais alto reflete os fundamentos piores do país e, por isso, não teria necessidade de intervenção, de acordo com relatos. Sendo assim, a atuação do BC deveria ser, no máximo, pontual para limitar o movimento especulativo. Outros destacaram que já é o momento de atuar de maneira mais firme, evitando os efeitos negativos de um dólar muito mais elevado. Os dirigentes que estavam por lá - Tiago Berriel e Carlos Viana --não se pronunciaram, como é o costume nesses eventos, que servem de base para o Relatório Trimestral de Inflação (RTI). Hoje, mais uma rodada ocorre no Rio.

Desta vez, além da instabilidade no exterior, o que está por trás da atual onda de nervosismo no mercado é o risco de o PT chegar ao segundo turno da eleição presidencial. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o líder nas pesquisas de intenção de votos, seguido pelo deputado Jair Bolsonaro (PSL). Ambos os nomes são considerados menos centristas e, por isso, os investidores trabalham com uma dose reforçada de cautela. Geraldo Alckmin (PSDB) - candidato mais alinhado à agenda econômica no mercado - ainda patina nas pesquisas de intenção de votos.

A escalada do dólar já dura sete sessões consecutivas, superando a sequência de maio (do dia 11 até o 18). Naquela época, o mercado foi tomado pela forte alta do dólar no exterior. Para evitar um aprofundamento da espiral negativa, o BC fez vendas bilionárias de swap cambial ao mercado. E o estoque total desses contratos subiu de US$ 23,8 bilhões para US$ 67,4 bilhões, nível que ainda é mantido. A última operação ocorreu em 22 de junho.

"Caberia ao BC combater o excesso de volatilidade, de modo a evitar uma espiral negativa no mercado, mas não interromper a dinâmica", diz um gestor. Para o profissional, não há ainda a necessidade de um grande programa de venda de swap, mas chegou o momento de fazer algo. "Não acho saudável uma explosão do câmbio se o cenário eleitoral ainda não se definiu."

A atuação do BC sem aviso prévio já ocorreu neste ano e não é descartada desta vez. Mas, para os especialistas do Credit Suisse, o impacto do programa de swap do BC foi apenas "limitado" no primeiro semestre. Até por isso, o mercado tende a ficar "cauteloso com qualquer anúncio de iniciativas semelhantes" enquanto as incertezas políticas ainda pesam no cenário. A mudança para a intervenção via reservas pode ser vista de forma mais construtiva e tenderia levar o dólar a testar o nível de R$ 3,85, dizem em relatório. "Mas, no final das contas, [essa estratégia] levanta questões de sustentabilidade se não conseguir deter o real de maneira significativa".