Tesouro vê retorno da 'normalidade' ao mercado

VALOR ECONÔMICO - 28 de agosto de 2018

Após a volatilidade registrada no mercado em maio e junho, o Tesouro Nacional voltou a fazer os leilões tradicionais de títulos públicos em julho e, com isso, viu o retorno da "normalidade" entre os investidores. Mesmo dizendo que a situação agora é de menor risco, no entanto, o governo mantém o monitoramento e não descarta novas intervenções caso julgue necessário.

O coordenador-geral de Operações da Dívida Pública do Tesouro Nacional, Luis Felipe Vital, afirmou ontem que o mercado voltou a passar por volatilidade nas últimas duas semanas (devido ao cenário eleitoral), mas que as condições estão diferentes daquelas observadas nos meses an- teriores - quando o Tesouro fez sucessivas atuações por meio de leilões extraordinários.

Segundo ele, o Tesouro retirou nas intervenções extraordinárias uma parcela relevante de risco do mercado - principalmente relacionado a papéis prefixados. Além disso, os próprios investidores estariam se protegendo mais. "As duas últimas semanas foram marcadas por bastante volatilidade. [Mas] As condições técnicas de mercado hoje são diferentes do observado em maio e junho. Hoje, o mercado possui uma exposição menor a risco, o que dá mais capacidade aos agentes de absorver volatilidades e incertezas", afirmou.

De acordo com Vital, o ambiente mais favorável tem ajudado o Tesouro a executar suas estratégias previstas. "Os leilões tradicionais voltaram em situação de normalidade", disse.

Na visão do Tesouro, a queda da volatilidade favoreceu inclusive a entrada de investidores estrangeiros. "O mês de julho foi marcado por menor volatilidade nos mercados enquanto a taxa de juros prefixada, preferida dos não-residentes, continuou em patamar elevado. Então aproveitou-se essa oportunidade para entrada maior de recursos", disse Vital. Em julho, a participação dos estrangeiros foi de 12,57% do total (contra 11,93% no mês imediatamente anterior).

Questionado sobre as recentes flutuações em câmbio e em juros, Vital não descartou novas atuações especiais. "O Tesouro segue monitorando o mercado e sempre que identificar necessidade fará atuação extraordinária", disse.

Enquanto monitora o cenário, o Tesouro viu em julho a dívida pública federal encerrar o mês com um estoque de R$ 3,748 trilhões - o que representa uma queda de 0,14% em relação ao mês imediatamente anterior. A queda foi ajudada pelo vencimento expressivo (de R$ 83 bilhões) da dívida interna no mês, o que é tradicional em inícios de trimestre. "É natural que haja esse resgate líquido e que ao longo dos meses subsequentes recuperemos esse valor", disse. Em julho de 2017, o resgate líquido da dívida total havia sido de R$ 33,9 bilhões. Em julho de 2018, foi de R$ 32,5 bilhões.

De acordo com os números, a dívida pública mobiliária federal interna (DPMFi) registrou uma alta de 0,01%, para R$ 3,607 trilhões em julho. Já a dívida federal externa encerrou o mês em R$ 141,28 bilhões (US$ 37,63 bilhões), o que representa uma queda de 3,75% na comparação com os números de junho.

Apesar da diminuição do estoque total, os dados divulgados pelo Tesouro Nacional mostram que houve novo aumento no custo médio, para 10,49% ao ano. Esse é o quarto aumento seguido no custo médio da dívida no acumulado de 12 meses desde o piso de 9,75% registrado em março. Segundo Vital, o aumento do mês foi influenciado principalmente pela inflação, impulsionada pela paralisação nos transportes em maio. "O aumento do custo é explicado principalmente pelo IPCA de junho [de 1,26%], que foi muito mais alto em decorrência da greve dos caminhoneiros", afirmou. Aproximadamente 30% da dívida interna é atrelada à inflação.

Informações: www.firjan.com.br/conexaosetorial