Indicação do novo embaixador nos EUA será votada com urgência pelo Plenário

Agência Senado - 13/02/2020


A Comissão de Relações Exteriores sabatinou e aprovou por unanimidade nesta quina-feira (13) o nome de Nestor José Forster Junior, escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro para ocupar a embaixada brasileira nos Estados Unidos. A indicação seguiu com urgência para o Plenário, onde será necessária a aprovação por maioria absoluta dos senadores (no mínimo 41) para que ele assuma um dos principais cargos da diplomacia brasileira. A cadeira, contudo, não é novidade para Forster. Ele vem ocupando interinamente o cargo há cerca de um ano, como encarregado de negócios da representação brasileira.


O diplomata considerou que a visita de Bolsonaro ao presidente americano, Dolnald Trump, em março de 2019, foi uma “virada de página” nas relações bilaterais Brasil-EUA. A partir daquele momento, disse, os Estados Unidos reconheceram o pleito do Brasil para ingressar na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Ele explicou que parte da estratégia para que isso aconteça foi a retirada do Brasil da lista dos países em desenvolvimento, como uma forma de acesso, no futuro, à organização, que é composta por 36 países.


Na sabatina, Forster citou que há perspectiva de aumento em cooperação na área militar e de defesa, uma vez que o Brasil ganhou o título de aliado preferencial extra da Otan. A embaixada, segundo ele, tem o desafio de aprofundar a cooperação científica, tecnológica e espacial porque o Brasil está sendo convidado a integrar importantes projetos em centros de pesquisa norte-americanos. O diplomata também destacou como resultado da visita de Bolsonaro o acordo de salvaguardas tecnológicas e a cooperação na base brasileira de Alcântara para lançamento de satélites.


— Depois de 20 anos, pudemos finalmente concluir o acordo, e isso dependeu em boa parte da celeridade com que o Congresso o aprovou, abrindo as portas para uma nova etapa de cooperação científica e tecnológica, especialmente na área espacial.


Ainda sobre o papel do Legislativo nas relações bilaterais, Forster se disse favorável a um intercâmbio maior com os deputados e senadores dos EUA.


— Temos um espaço enorme para a diplomacia parlamentar, para aumentar o diálogo entre os Legislativos dos dois países. A diplomacia entre os países não deve se limitar a conversas entre os servidores do Executivo. É preciso avançar além da troca de informações sobre os projetos de lei e troca de experiências entre os parlamentares.


Uma das áreas citadas como de interesse comum foi a Amazônia. Forster sugeriu convidar os parlamentares dos EUA para conhecer a realidade da região, separando mitos ou fake news e enfrentando os temas com realismo. Para exemplificar, disse que as queimadas do ano passado estavam dentro da média histórica e menor que a de anos como 2010, 2007 e 2005.


— Nosso trabalho é esclarecer certos exageros, desfazer a fumaça. Mostrar que o governo brasileiro continua comprometido com o desenvolvimento sustentável, mas existem duas pernas, uma delas é a sustentabilidade e o meio ambiente, mas há também o desenvolvimento econômico.


O diplomata afirmou que não é possível aos cerca de 25 milhões de brasileiros que vivem na região amazônica serem relegados ao extrativismo.


— Queremos que essas pessoas melhorem a qualidade de vida com acesso aos serviços públicos e ao desenvolvimento.


O senador Fernando Collor (Pros-AL) afirmou que o Brasil deveria trabalhar para que os Estados Unidos voltem ao Acordo de Paris, para ele a única solução na área ambiental. Collor também sugeriu que o Brasil se empenhe para derrubar o embargo a Cuba pelo problema humanitário causado pelo isolamento do país. Segundo o senador, cerca de 800 crianças cubanas, com menos de três anos de idade, estariam precisando de um remédio para o coração que é fabricado por um laboratório norte-americano.



Fronteiras


Forster avaliou que no último ano os maiores CEOs dos Estados Unidos e do Brasil se aproximaram e lembrou que foi lançado o programa de simplificação de entrada nos aeroportos conhecido como Global Entry para os brasileiros e norte-americanos que viajam frequentemente para negócios e pesquisas, por exemplo.


Segundo ele, o programa de isenção de vistos para os norte-americanos aumentou em 15% o número de turistas dos EUA no Brasil, implementando o emprego e a renda das áreas que os receberam.


De acordo com o diplomata, há atualmente cerca de 1,3 milhão de brasileiros vivendo nos EUA e “as autoridades americanas têm apreço por essa comunidade que é ordeira e trabalhadora e que contribui para a economia local”. Forster apontou, contudo, um aumento exponencial no número de deportados, cerca de 18 mil em 2019, 10 vezes maior que o registrado no ano anterior.


— Investigações policiais mostraram que organizações criminosas de imigração ilegal que atuavam na América Central se redirecionaram para a América do Sul para levarem famílias. Estamos acompanhando de perto o processo de cada um e, geralmente, eles mesmos pedem para voltar, afinal ninguém quer esperar preso a um processo que provavelmente lhe será desfavorável.


O senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) reiterou a necessidade de a embaixada brasileira estar atenta à imensa população mineira que mora nos EUA de maneira regular ou ainda ilegal, e das necessidades de apoio. Ele lembrou que há grandes comunidades de mineiros em alguns estados norte-americanos e a fonte de renda deles é importante até para o sustento das famílias que ficaram no Brasil.



Alinhamento


Forster rebateu a crítica do senador Jaques Wagner (PT-BA) de que seria preocupante o “alinhamento automático” do Brasil com os Estados Unidos.


— São dois países grandes e soberanos, não há subserviência nem subordinação alguma. Mas é fato que todos os grandes países que deram saltos econômicos nos últimos anos tiveram uma relação especial com os Estados Unidos e se beneficiaram disso.


Wagner acusou o governo de promover a “ideologização da diplomacia brasileira” e defendeu uma relação aberta com os países. Ele criticou situações que o preocupam, como a postura do governo brasileiro na ocasião da morte do líder iraniano Qassem Soleimani.


— Essa é uma guerra que não nos interessa, da qual não fazemos parte. É inconveniente. Sou a favor de uma diplomacia pragmática, na qual defendemos o que for bom para o país.



Carreira


Nestor Forster é de Porto Alegre, graduado em Letras Clássicas e Vernáculas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e em História pela mesma instituição. Ele ingressou na carreira diplomática em 1986. Já foi oficial de gabinete da Subsecretaria Geral da Presidência da República (1990/92) e chefiou o Setor de Política Comercial da embaixada em Washington (1992/95) e o Setor Econômico da Embaixada em Ottawa, no Canadá (1995/98). Depois foi chefe de gabinete do advogado-geral da União (2002) e no ano seguinte voltou aos EUA para chefiar o Setor Financeiro da embaixada em Washington (2003/06). Virou encarregado de negócios da embaixada no ano passado.


Fonte: Agência Senado