Editorial

Canto da sereia é uma expressão utilizada para referir-se a um perigo escondido por trás de algo sedutor. E foi esta a expressão usada pela entidade do contra para seduzir a sua categoria e conduzi-la a mais uma derrota política, para não perderem o hábito, pela bandeira que a induziu a empunhar no debate do projeto que criou a Receita Federal do Brasil (hay modernización, soy contra). Até aí tudo bem, mesmo que soframos os efeitos indiretos dessa postura inconseqüente. Mas não podemos esquecer que, como em outras situações, temos sofrido os efeitos diretos das ações dessa entidade, como o caso da RAV 8X, da ação que atacou a Lei 10.593 no que tange ao reconhecimento do nível superior do cargo de Técnico da Receita Federal, da ação que quer estabelecer a hierarquia entre os cargos, etc. E por aí vão eles, presos, indefinidamente, no vórtice do furacão de rancor produzido pela incapacidade de superar o anacronismo de suas concepções.

Agora, a sereia lança o seu canto novamente. Tenta convencer aos incautos (e pelo visto não os faltam) a acreditarem que, embora contrários à íntegra do projeto, foram os patrocinadores da emenda que incluiu a paridade no seu bojo, como se fossem os únicos interessados a lutar pela matéria. A sua postura real, na essência, rifava os próprios aposentados (e os das demais categorias interessadas), além de manipulá-los e levá-los a ser os atores principais no trabalho parlamentar contra o projeto e, por conseguinte, à paridade nele consignada. Todos temos a consciência de que não será uma vitória fácil e tememos que o toque da sereia, se seduzir alguém com o seu cantar, possa mesmo por acabar em prejudicá-la, haja vista o seu poder de Midas às avessas mostrado na história das suas ações.

Como se não bastasse, acusam, por meio de seu boletim, o Sindireceita de antiético, por ter mantido a coerência na defesa do bom uso da autoridade, relatando fatos referentes à agressão praticada por um servidor da Receita Federal contra uma trabalhadora da empresa concessionária de um pedágio. Isso em meio aos festejos do Dia Internacional da Mulher. As cenas, mostradas em cadeia nacional, atentaram contra a imagem da instituição e de seus servidores. Por isso, foi objeto de merecida crítica para que, entre os Técnicos da Receita Federal, esta postura não prospere em hipótese alguma.

De cada um desses fatos podemos extrair uma lição basilar: o discurso ético, quando manipulado, destrói a ética. É a coerência da ação com a concepção e a capacidade de saber vencer e perder que põem na justa medida o julgamento de uma postura quanto ao seu caráter ético. Ao nosso entender, as guinadas de posição e opinião de acordo com a conveniência e a incapacidade de aceitar a derrota, tendo na distorção da realidade sua estratégia de sobrevivência política, e não na coerência ideológica, é que são antiéticos. O Sindireceita nunca moveu uma palha para prejudicar os avanços de nenhuma categoria, não temos ações judiciais contra seus pleitos vitoriosos, nunca interferimos nos ganhos salariais de outra categoria ou instituímos hierarquia entre cargos em hipótese alguma. Portanto, se temos alguma coisa a nos orgulhar é do fato de sempre termos sido coerentes com o nosso posicionamento, de termos tido a capacidade de aceitar as nossas derrotas, aprendendo com elas, e de dizer a verdade.

Para pregar a ética é preciso, primeiro, ter ética.

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